Sociedade
Número de estelionatos aumenta e brasileiros sofrem 1 golpe a cada 16 segundos
Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostram que número de estelionatos é mais que o dobro do de roubos


O número de estelionatos segue uma tendência de alta. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira 18, foram 1,9 milhões em 2023. Isso significa que um golpe é registrado no País a cada 16 segundos – sem contar os muitos casos que não são registrados em delegacias.
Os quase 2 milhões de registros de golpes representam um aumento de 8,2% na comparação com os dados compilados pelo Anuário em 2022. O documento é elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com dados oficiais fornecidos pelas polícias e pelo poder público estadual, além de outras fontes oficiais.
Os dados sobre estelionato mostram crescimento acentuado nos registros. Desde 2018, o aumento foi de 360%, segundo o Fórum de Segurança. No atual cenário, o número de estelionatos já é mais que o dobro do de roubos, que foram 870 mil em 2023.
A tendência, segundo o Anuário, foi reforçada durante a pandemia de covid-19. O isolamento social fez com que grupos criminosos rearticulassem as atividades e, com isso, os roubos passaram a ser substituídos pelos golpes – presenciais e virtuais. O total de registros de estelionatos já supera o de roubos no país desde 2021.
“A incorporação quase que absoluta de smartphones na vida cotidiana da imensa maioria da população brasileira é um exemplo de transformação digital que tem mudado a forma das interações Estado e sociedade e dos indivíduos entre si. O número crescente de estelionatos e golpes virtuais responderia, portanto, à migração cada vez mais intensa de esferas da vida para o ambiente cibernético acessado pelos smartphones (bancos, aplicativos de relacionamento, de serviços de transporte, saúde e/ou alimentação, entre outros)”, resume o Anuário.
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública afirma que a migração digital facilita o avanço dos golpes, especialmente entre as faixas etárias mais velhas, devido aos “desafios de letramento digital”. Em outras palavras, a rapidez das mudanças tecnológicas e o baixo investimento em segurança impõem dificuldades de compreensão efetiva das ferramentas que estão – literalmente – na palma da mão.
“Mesmo com todos os avanços tecnológicos, o investimento em segurança digital ainda é baixo e abre brechas que ajudariam a compreender os números de golpes virtuais aqui trazidos. O crime tem explorado as novas fronteiras sociais e econômicas de modo cada vez mais rentável e inovador”, resume o relatório.
Em nota, o Ministério da Justiça afirmou que “a segurança pública é prioridade do governo federal desde o início da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva”.
“A partir da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), o MJSP trabalha pela articulação da rede de DHPPs (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), para aumentar a capacidade de investigação de homicídios pelas unidades especializadas, com vistas ao aumento da taxa de esclarecimento dos crimes em âmbito nacional”, diz um trecho do comunicado.
A pasta também reforça que o ministro Ricardo Lewandowski defende a constitucionalização do Sistema Único de Segurança Pública, “para que a União tenha mais poderes de fazer um planejamento nacional de caráter compulsório para os outros órgãos de segurança, sem prejuízo da competência dos Estados e do Distrito Federal de legislarem sobre o tema”.
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