Na colorida aquarela musical que Rosa Magalhães reuniu para a cerimônia de encerramento da Olimpíada do Rio teve de Pixinguinha a Tom Jobim, de Silas de Oliveira a Luiz Gonzaga, de Carmen Miranda a Villa Lobos, das Frenéticas a Ary Barroso, mas deu para lamentar uma sentida lacuna: faltou aquele som que brindou, na festa de abertura, com estrépito coletivo, o interino Michel Temer – duplamente intruso, no governo e na tribuna. Uma bela, contundente, maviosa vaia.
Temer tratou de se esquivar no domingo do apupo coletivo e despachou para representá-lo um outro apparatchik do golpe, o deputado Rodrigo Maia, presidente do picadeiro, quer dizer, da Câmara Federal, o qual prudentemente sequer foi anunciado. As vaias acabaram resvalando no prefeito Eduardo Paes, mas com uma condescendência que já antecipava o espírito da noite: assim como acontece no carnaval, a gente só vai pensar na realidade no dia seguinte.
Carnavalesca é Rosa Magalhães, que concedeu o encerramento; carnavalesco haveria de ser o grand finale, e é bem possível que no momento em que você estiver lendo essas mal traçadas a batucada ainda esteja comendo solta no Maracanã, com aquela disposição incansável de cabrochas, passistas, baterias, porta-estandartes, mestres-salas e o Renato Sorriso, gari promocional. Alguém em algum momento vai ter de tirar aquela gente toda da tomada.
Se a chuva surgiu para empanar a féerie à brasileira, com chibatadas de vento, pior ainda, para os organizadores da noite, foi o contraste com o show high tech, de beleza radical, encenado pelos japoneses – presumindo o magnifíco espetáculo que certamente será a Olimpíada de Tóquio em 2020. Até o primeiro-ministro Shinzo Abe aflorou no gramado do Maracanã. Os políticos japoneses não têm por que ter medo do público.
O Rio fez o que dava para fazer, bem ao seu estilo. A Olimpíada não vai, sozinha, fazer o Brasil acreditar que é melhor do que é; nem que é pior do que é.
Foi bonita a festa, sim. Da vaia ao interino ficou a lição de que ele e seus aduladores não serão absolvidos por obra de uma mistificação esportiva ou graças a um despiste cenográfico. Os Jogos do Rio entraram para a História pela porta da frente; ao interino a História já reservou a sua lata de lixo.