Sociedade
Músico negro preso injustamente é solto no Rio: “Senti muito medo”
Luiz Carlos Justino, de 23 anos, foi detido na última quarta-feira. ‘Não imaginava um dia ser preso por algo que não fiz’, disse


O músico Luiz Carlos Justino, preso na última quarta-feira 2, foi solto neste domingo 6 por volta do meio-dia.
Segundo o jornal O Globo, mesmo após alvará de soltura expedido pelo plantão judiciário na noite de sábado 5, o artista de 23 anos chegou a ser transferido do Complexo Penitenciário de Benfica para o Complexo de Guaxindiba sem que seus familiares e advogados fossem avisados.
Ainda de acordo com a publicação, Justino disse não ter conseguido dormir e relatou ter sentido medo de morrer na prisão.
“Eu estava muito nervoso, porque nunca passei por isso e nem imaginava um dia ser preso por algo que não fiz. Também não tive contato nenhum com minha família ou advogados nesse tempo todo. Senti muito medo. Em Benfica, quase vomitei porque nos serviram comida estragada. Os agentes também ameaçaram cortar meu cabelo”, afirmou.
O músico Luiz Carlos da Costa Justino acaba de ser liberado e já está indo para casa acompanhando dos advogados da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ, Renan Gomes e Sônia Ferreira Soares. pic.twitter.com/r4xOcNakso
— Rodrigo Mondego (@rodrigomondego) September 6, 2020
Entenda o caso
O violoncelista foi preso em Niterói após a polícia alegar que, contra o músico, havia um mandado de prisão aberto por assalto à mão armada que teria ocorrido na manhã de 5 de novembro de 2017, um domingo.
No entanto, testemunhas dizem que, na época do crime, Justino tinha contrato fixo com uma padaria, onde tocava violoncelo. As apresentações aconteciam justamente aos domingos pela manhã.
No dia em que foi detido, Justino havia acabado de fazer uma apresentação com os colegas da orquestra. Ele estava com um amigo em um bar quando foi abordado por policiais militares.
Depois que foram revistados e tiveram os nomes pesquisados, o músico foi levado para a delegacia.
Na decisão que decretou a prisão preventiva, a juíza Fernanda Magalhães Freitas Patuzzo diz que a detenção era necessária para garantir a tranquilidade da vítima que reconheceu Justino na delegacia.
A Polícia Civil, de acordo com o G1, não respondeu de que maneira foi feito o reconhecimento pela vítima.
No sábado, artistas da Orquestra de Cordas da Grota protestaram em frente ao presídio onde estava o Justino.
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