Sociedade

Astrônomas não-brancas sofrem mais discriminação no local de trabalho

Pesquisa revela que 40% delas não se sentem seguras e 88% ouviram comentários racistas ou sexistas nos últimos 5 anos

Segundo a pesquisa, 39% das astrônomas não-brancas afirmaram ter sofrido agressões verbais no local de trabalho
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Ambientado na década de 1960, o filme Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures) chamou a atenção para as dificuldades enfrentadas por mulheres negras que trabalhavam na Nasa, a agência espacial americana.

Em plena era da segregação racial nos Estados Unidos, os cálculos realizados por um grupo de matemáticas negras foi essencial para o salto tecnológico que permitiu a ida do homem à Lua, o que não as protegeu do racismo e da discriminação de gênero. 

Entre as situações mostradas pelo longa dirigido por Theodore Melfi e estrelado por Katharine Johnson e Octavia Spencer (que abocanhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo papel), estão a obrigatoriedade do uso de um banheiro separado, as dificuldades de ingresso das mulheres negras em universidades e o ambiente de trabalho que hostilizava a presença delas. 

De lá para cá, a luta pelos Direitos Civis enterrou as leis segregacionistas, mas a situação de mulheres não-brancas trabalhando com Astronomia continua desafiadora: 40% delas relataram que se sentem inseguras no local de trabalho devido a seu gênero. Outras 28% relataram insegurança devido ao seu perfil racial.

Cerca de 13% das mulheres que respondera à pesquisa declararam que perderam ao menos uma aula, reunião, oportunidade de trabalho de campo ou outros eventos profissionais pela mesma razão. Como esse tipo de atividade em geral está ligada às oportunidades de ascensão profissional, a trajetória da carreira dessas mulheres pode ser prejudicada. 

Homens não-brancos também relataram que não participaram de eventos por terem ouvido comentários racistas na escola ou no trabalho.

Os resultados estão disponíveis na pesquisa Double Jeopardy in Astronomy and Planetary Science: Women of Color Face Greater Risks of Gendered and Racial Harassment”, publicado no Journal of Geophysical Research em julho. 

Segundo a pesquisa, 88% das respondentes relataram ter ouvido comentários, nos últimos cinco anos, interpretados como racistas, sexistas ou depreciativos. Ao menos 39% responderam que já sofreram agressões verbais e, 9%, físicas no local de trabalho.

Essas experiências negativas afetam a sensação de segurança das cientistas em seu próprio ambiente de trabalho, gerando efeitos desfavoráveis nas oportunidades profissionais, agravando ainda mais o quadro de subrepresentação de mulheres e outros grupos minorizados na ciência, diz Kathryin Clancy, antropóloga na Universidade de Illinois e uma das autoras do estudo.

“Quando 40% das mulheres não-brancas dizem que se sentem inseguras no local de trabalho – não no curso de sua vida, só nos últimos anos – isso é provavelmente uma das evidências mais fortes de que algo está terrivelmente errado”, afirma.

Nas redes sociais, cientistas negras endossaram os resultados da pesquisa:

“Posso confirmar: deixei de ir a muitos eventos e conferências para proteger minha saúde mental e evitar fetichizações e microagressões”, afirmou a graduanda em Astronomia na Universidade da Califórnia. 

Mais de 474 acadêmicos, estudantes, pesquisadores e administradores atuando na área responderam à pesquisa, realizada durante o primeiro semestre de 2015. Mulheres, em particular as não-brancas, reportaram com mais frequência terem presenciado comentários racistas ou sexistas.

Cerca de um terço dos homens brancos participantes do estudo declararam ter ouvido comentários semelhantes em salas de aula ou em laboratórios.

A maior parte dos comentários negativos vieram de colegas de trabalho, mas também houve registros significativos de atitudes semelhantes por parte de supervisores ou de pessoas em posições de poder.

Pesquisas anteriores já haviam descoberto que mulheres geralmente sofrem discriminações sutis, indiretas ou sem intenção nas áreas relacionadas à ciência. Mas é a primeira vez que se analisa tal cenário diante do recorte racial.

Os resultados sugerem a necessidade do campo da Astronomia de combater esse tipo de experiência para todas as mulheres, mas, especialmente, para mulheres não-brancas.

Entre as sugestões apresentadas pelas autoras da pesquisa, estão a implementação de um código de conduta trabalhista para todos os empregados e trainees e treinamentos obrigatórios sobre diversidade.

Além disso, apontam para a necessidade de se lidar com casos de abuso de maneira rápida, justa e consistente.

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