Sociedade
MPF tenta identificar PRF suspeito de entrar em CTI onde criança baleada está internada no Rio
Procurador afirma não acreditar em ‘um incidente isolado’ e classifica o episódio como ‘estranho, no mínimo’


O Ministério Público Federal terá acesso nesta segunda-feira 11 à identificação do agente suspeito de entrar no Centro de Tratamento intensivo do Hospital Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias (RJ), sem se identificar.
Na unidade está internada Heloísa dos Santos Silva, de três anos, baleada durante uma abordagem da Polícia Rodoviária Federal na quinta-feira 7. Ela continua em estado grave.
“Um PRF à paisana, com distintivo, mas sem a farda, entrou no CTI. Os agentes do MPF entraram, mas se identificando, passando pelo procedimento de segurança. O PRF disse apenas ‘assunto policial’ e foi entrando. Por quê? O que ele estava fazendo? E por que não se identificou? Quem manda no CTI são os médicos”, disse o procurador Eduardo Benones ao jornal O Globo.
Benones também afirmou não acreditar em “um incidente isolado” e classificou o episódio como “estranho, no mínimo”.
Na quinta-feira, a criança estava no carro com os pais, a tia e a irmã.
O que dizem os policias
O agente Fabiano Menacho Ferreira relatou em depoimento à 48ª DP ter disparado contra o carro em que estava Heloisa por ter ouvido o barulho de um tiro. Ele e dois colegas teriam começado a perseguir o veículo após constatar ser produto de um roubo.
Segundo o depoimento, “depois de 10 segundos atrás do veículo” os policiais “escutaram um som de disparo de arma de fogo, chegando a abaixarem-se dentro da viatura”.
Ele admitiu ter disparado três vezes com um fuzil calibre 556 na direção do carro, “pois a situação lhe fez supor que disparo que ouvira veio deste veículo”.
Segundo Fabiano e seus dois colegas, Matheus Domicioli Soares Viegas Pinheiro e Wesley Santos da Silva, o giroflex e a sirene da viatura estavam ligados. A versão contrasta com as afirmações da família da vítima. Os detalhes da oitiva foram revelados pela TV Globo.
A Polícia Civil confirmou que o carro era roubado. O motorista e pai da criança, William Silva, disse ter comprado recentemente o veículo e assegura que não sabia da irregularidade.
O que diz o pai
William Silva afirma ter passado pelo posto da PRF sem ser abordado, mas passou a ser seguido por uma vitatura.
“A Polícia Rodoviária Federal estava parada ali no momento em que a gente passou. A gente passou e eles vieram atrás. Aí eu falei: ‘Bom, tudo bem, mas eles não sinalizaram para parar’. E aí, como eles estavam muito perto, eu dei seta e, neste momento, quando meu carro já estava quase parado, eles começaram a efetuar os disparos”, narrou.
“Eu coloquei a mão para o alto, saiu todo mundo, só a minha menorzinha que ficou dentro do carro. Aí foi a hora em que eu entrei em choque, em desespero, e a gente veio para esse hospital.”
O que diz a PRF
Em nota, a Polícia Rodoviária Federal afirmou colaborar com as investigações e confirmou o afastamento dos três agentes envolvidos, “inclusive para atendimento e avaliação psicológica”.
“A PRF expressa seu mais profundo pesar e solidariza-se com os familiares da vítima, assim como está em contato para prestar apoio institucional”, diz o comunicado.
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