MPF processa antropólogo bolsonarista e pede 100 mil reais por racismo contra o cacique Raoni

Edward Luz, também conhecido como 'antropólogo dos ruralistas', já foi detido três vezes por condutas que atentam a segurança dos povos indígenas de Altamira

Foto: Reprodução

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O Ministério Público Federal do Pará ofereceu, nesta segunda-feira 19, uma ação contra Edward Luz, o ‘antropólogo dos ruralistas’, por manifestações de cunho racista contra o cacique Raoni, durante um evento ocorrido em novembro de 2019 na Universidade Federal do Pará, em Altamira.

Na data, ele liderou um grupo de cerca de 15 pessoas, que tumultuou o local durante a fala de Raoni, gritando para que tocassem o hino nacional e empurrando as pessoas que protestavam contra a presença de fazendeiros envolvidos em conflitos de terra justamente com os indígenas. 

Em seguida, ele foi expulso do evento, como mostra o vídeo a seguir. 


Mesmo depois que o hino foi tocado, as provocações continuaram e o cacique pediu para que se mantivesse o respeito pelos presentes. Nesse momento, um grupo de fazendeiros presentes agrediu a um professor da UFPA. Em seguida, os policiais federais retiraram o grupo do local. 

Após este dia, Luz se hospedou no mesmo hotel que Raoni para pedir explicações da retirada do grupo do evento. O que obrigou o cacique a mudar sua estadia dali por questões de segurança. 

Antes mesmo do evento, o antropólogo já havia escrito postagens  sobre uma suposta “conspiração contra a soberania nacional” por parte dos organizadores do evento e circulava na internet áudios sobre uma suposta “guerra dos patriotas”. 

O documento, assinado por 23 procuradores da República, pede indenização de 100 mil reais para comunidade local por calúnia, difamação e assédio, além de um pedido de desculpas formal ao cacique publicamente. 

“Esse tipo de ofensa para a cultura mebengokrê sujeita causar o enfraquecimento do karón do pajé, da sua alma, repercutindo no seu poder”, ponderou a pesquisadora do MPF presente no local, Thais Mantovanelli. 

Luz responde a três ações por calúnia contra uma antropóloga, por criar obstáculo à fiscalização ambiental e por desacato contra agente público. 

Em sua conta no Instagram, Edward Luz se descreve um “redescobridor do Brasil que produz”. 

O antropólogo também foi preso três vezes desde 2020, por invasão a terra indígena e por tentar impedir o trabalho do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, o Ibama, em Altamira.

Por conta disto, em 2013, ele chegou a ser expulso da Associação Brasileira de Antropologia. 

Atualmente, ele cumpre pena em regime aberto, com monitoramento por tornozeleira eletrônica. 

Em conversa com CartaCapital, Luz disse que ainda não foi intimado e repudia qualquer agressão ao cacique Raoni. Ele afirmou que em nenhum momento durante seu pedido para tocarem o hino nacional se referiu ao cacique e que a intenção ao comparecer no evento era “para representar o lado que produz, representar quem quer viver, produzir e pastorear na Amazônia e para aprender, nada de agressões”. Ele disse não estar ciente do ocorrido com o professor da UFPA e quanto as publicações nas redes sociais, ainda não sabe quais o MPF se refere.

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