Sociedade

MP não descarta participação de policial preso em morte de Marielle

Operação prende major da PM que foi homenageado pelo então deputado Flávio Bolsonaro

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Apontado como chefe do chamado “Escritório do Crime”, segundo informações do jornal O Globo, o major da Polícia Militar Ronald Paulo Alves Pereira foi preso em operação do Ministério Público do Rio na Operação Intocáveis, deflagrada na manhã desta terça-feira 22, em Rio das Pedras e arredores da comunidade da zona oeste carioca.

No entanto, em coletiva na manhã de hoje, o MP do Rio não confirmou e nem negou a informação. “Há indícios de que alguns dos presos façam parte do Escritório do Crime”, disse a promotora Simone Sibilio.

O “Escritório do Crime”, organização criminosa que comete assassinatos sob demanda, foi apontado como o possível executor dos assassinatos de Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, de acordo com o jornal.

“A operação de hoje se vincula ao desmantelamento do mercado imobiliário ilegal da comunidade de Rio das Pedras. Não podemos afirmar que essa investigação tem relação com o caso Marielle e Anderson. Mas também não podemos descartar. Se num futuro próximo nós apurarmos que há relação [entre os presos na operação de hoje e a morte da vereadora e seu motorista], isso será colocado nos autos dos inquéritos”, declarou Sibilio.

O inquérito que investiga os assassinatos de Marielle e Anderson corre sob sigilo.

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Segundo a promotoria, Pereira é apontado nesta investigação como um dos chefes da quadrilha de grilagem de terras na região de Rio das Pedras.

Em 2004, o major da PM também foi alvo de uma menção de louvor e congratulações pelo então deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro. À época, Pereira era capitão da PM. O texto do deputado justifica a homenagem devido aos “importantes serviços prestados ao Estado do Rio de Janeiro” após uma operação no Complexo da Maré, no mesmo ano, que resultou na morte de criminosos e apreensão de armamentos.

Flavio também fez uma homenagem contra outro denunciado na operação das milícias deflagrada hoje pelo MP do Rio. Adriano Magalhães da Nóbrega, o “capitão Adriano”, está foragido.

Sua mãe, Raimunda Veras Magalhães, foi lotada no gabinete de Flávio quando ele era deputado estadual. Ela aparece no relatório do Coaf como uma das remetentes dos depósitos para Fabrício Queiroz, ex-motorista de Flávio. As informações foram reveladas hoje pela TV Globo.

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De acordo com o relatório do Coaf, Raimunda depositou R$ 4,6 mil na conta de Queiroz. Segundo a TV Globo, ela aparece na folha de pagamento da Alerj com salário líquido de R$ 5.124,62.

O MP do Rio informou que o deputado Flávio Bolsonaro não é investigado na operação de hoje.

Também foram presos hoje Maurício Silva da Costa, Laerte Silva de Lima, Manoel de Brito Batista e Benedito Aurélio Ferreira Carvalho.

Além do major da PM, a cúpula do grupo seria formada por Adriano da Nóbrega (cuja mãe foi lotada no gabinete de Flávio Bolsonaro), conhecido como Capitão Adriano, e Ronald Paulo Pereira, o Major Ronald. Os dois, que são alvo de mandado de prisão, estão foragidos.

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Os investigados são apontados por ações criminosas como extorsões, grilagens e assassinatos. Segundo o MP do Rio, várias homicídios da região podem estar vinculados a essa organização, cujos inquéritos estão em andamento na Delegacia de Homicídios.

Os presos, de acordo com a promotora Simone Sibilio, vão responder por organização criminosa armada e homicídio qualificado. Segundo a promotora Elisa Fraga, 158 policiais militares e civis participaram da operação em Rio das Pedras. As denúncias foram feitas por moradores da região.

Foram apreendidos cerca de 200 cheques preenchidos de “alta quantia”, R$ 50 mil em espécie, documentações de aluguel de imóveis e seis armas de fogo. Associações de moradores da região também foram alvo de buscas na manhã de hoje.

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A comunidade de Rio das Pedras teria sido o refúgio do ex-motorista de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, após as revelações de que ele teria movimentado R$ 1,2 milhão em um mês em sua conta. As informações foram publicadas ontem pelo colunista Lauro Jardim no jornal “O Globo”.

Outro lado

O senador eleito Flávio Bolsonaro se manifestou por meio de nota no final da manhã de hoje. “Continuo a ser vítima de uma campanha difamatória com objetivo de atingir o governo de Jair Bolsonaro”, disse em comunicado.

“A funcionária que aparece no relatório do Coaf foi contratada por indicação do ex-assessor Fabrício Queiroz, que era quem supervisionava seu trabalho. Não posso ser responsabilizado por atos que desconheço, só agora revelados com informações desse órgão”, prosseguiu o texto.

O senador eleito disse também que, “quanto ao parentesco constatado da funcionária, que é mãe de um foragido, já condenado pela Justiça, reafirmo que é mais uma ilação irresponsável daqueles que pretendem me difamar”.

Sobre as homenagens prestadas a militares, ele afirmou que sempre atuou “na defesa de agentes de segurança pública e já concedi centenas de outras homenagens”.

A defesa de Fabrício Queiroz, ex-motorista do senador eleito, também se manifestou por meio de comunicado.

“A defesa técnica de Fabrício Queiroz repudia veementemente qualquer tentativa espúria de vincular seu nome a milícia no Rio Janeiro. A divulgação de dados sigilosos obtidos de forma ilegal e sua divulgação na imprensa constitui verdadeira violação aos direitos básicos do cidadão, como também uma grande desumanidade, considerando seu estado de saúde. De outro lado, registra ainda que embora tenha requerido em três oportunidades as referidas informações ainda não foram disponibilizadas e para sua total surpresa e indignação vem sendo vazadas diariamente com caráter sensacionalista”, diz o texto.

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