Sociedade
Morre João Clá, o fundador dos Arautos do Evangelho
História da ordem ultracatólica nascida da TFP é marcada por denúncias de abusos, exorcismos forçados e intervenção do Vaticano


Morreu nesta sexta-feira 1º, aos 85 anos, o clérigo João Scognamiglio Clá Dias, fundador da ordem católica Arautos do Evangelho.
Clá enfrentava há mais de uma década complicações de saúde decorrentes de um AVC. No domingo, dia 3, haverá uma missa em sua homenagem.
Os Arautos do Evangelho, organização que fundou em 1997, são uma associação católica nascida do cisma entre a alta cúpula da Tradição, Família e Propriedade. O dote divinal do fundador da TFP, acreditam os fiéis, foi transmitido a Clá, seu secretário por mais de duas décadas.
Sob o papado de Bento XVI, a organização cresceu. Em 2009, o papa alemão concedeu aprovação pontifícia às duas entidades e deu a Clá o título de Monsenhor.
Os Arautos mantem milhares de alunos em um suntuoso imóvel da Cantareira e em outros “castelos” espalhados pelo Brasil e outros países. Quase 80 pontos do planeta têm ao menos um religioso associado ao grupo.
Afastado em 2017, após vazarem vídeos de exorcismos e declarações controversas sobre o Papa Francisco, João Clá viu o Vaticano intervir na ordem e nomear um interventor, o cardeal Raymundo Damasceno, para “guiar” a organização.
Nos últimos anos, a ordem também enfrentou diversas denúncias de abusos, coerção psicológica e exorcismos forçados, com relatos de episódios de agressão e assédio moral e sexual em seus internatos. Ex-membros relatam rituais que misturavam veneração a “relíquias” — como fios de cabelo e sangue do fundador — e práticas de exorcismo. Pais e ex-alunos chegaram a levar o caso à Justiça, mas em 2024, o Tribunal de Justiça de São Paulo considerou não haver provas suficientes e encerrou o processo.
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