Sociedade
Moradores de Olinda protestam contra possível doação de terreno público para igreja evangélica
A proposta para a transformação do terreno em uma praça para o bairro remonta de 2011, mas o plano da Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Abreu e Lima é transformar o local em um templo religioso


Há mais de uma década, moradores do bairro Cidade Tabajara, em Olinda (PE), aguardam que um terreno da Prefeitura seja transformado em praça. Planos de uma igreja evangélica, contudo, atropelaram as expectativas da comunidade.
No começo do mês, a Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Abreu e Lima cercou com tapumes uma das poucas áreas verdes do bairro e anunciou que ali seria construído um novo templo. Ao ser cobrada pela documentação que comprovaria a doação do terreno por parte da Prefeitura, contudo, a igreja evitou dar explicações.
Diante da movimentação, moradores se revoltaram e removeram os tapumes que impediam o acesso ao espaço público. A Polícia Militar foi acionada. “Quando a população descobriu, se revoltou. Eles acham que vão mandar em Olinda, mas não é bem assim. O plano era começar a construir, e depois ia ser tarde demais para a comunidade fazer alguma coisa”, afirma o líder comunitário Fernando MJ.
A proposta de transformar o terreno em uma praça para o bairro é ventilada desde 2011. Uma placa chegou a ser instalada no local, informando um investimento federal de R$ 2,6 milhões para a criação de espaços de lazer em 10 bairros da cidade. O projeto, contudo, nunca saiu do papel.
A comunidade acusa a Prefeitura, comandada pela pessedebista Mirella Almeida, de ter feito um acordo informal com a igreja. Almeida é herdeira política do prefeito anterior, Lupércio Nascimento (PSD), figura próxima dos assembleianos.
“O que mais chamou atenção é que não deu 10 minutos da manifestação da população, a Prefeitura apareceu para dar suporte à igreja. Eu já vi esse tipo de coisa com movimento de Sem Teto, Sem Terra… mas Assembleia de Deus ocupando um terreno é a primeira vez”, ironiza Fernando. “A gente não vai aceitar de jeito nenhum que tomem o que deve ser de todos.”
A gestão municipal nega ter formalizado qualquer doação e afirma que o caso está “em fase de análise pela Procuradoria Geral do Município”. Segundo nota enviada à reportagem, o pedido da igreja foi protocolado, mas ainda está em avaliação. “O parecer sobre a viabilidade jurídica do processo será emitido em breve, e as partes envolvidas serão notificadas assim que a análise for concluída.”
Com os tapumes retirados, moradores passaram a cuidar da área por conta própria. Organizam eventos, encontros e mutirões de limpeza para manter o espaço ativo.
Procurado por CartaCapital, o Ministério Público de Pernambuco informou que instaurou uma Notícia de Fato na 3ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania de Olinda — com foco em Meio Ambiente, Habitação, Urbanismo, Patrimônio Histórico e Cultural — e requisitou informações ao poder público.
A reportagem entrou em contato com a Igreja Assembleia de Deus de Abreu e Lima diversas vezes, mas não obteve resposta até a publicação deste texto. O espaço segue aberto para manifestação.
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