Mônica Calazans: ‘A defesa da vacina é meu papel mais importante’

No dia 17 de janeiro de 2021, Mônica Calazans enfrentava mais um dia de atendimento a pacientes com coronavírus no Hospital Emílio Ribas, referência em infectologia em São Paulo. As TVs do hospital transmitiam ao vivo da sessão da Anvisa sobre a liberação ou não de duas vacinas para uso emergencial.

Horas mais tarde, a enfermeira tornou-se um símbolo. Foi a primeira brasileira vacinada contra a Covid-19 no País, em uma cerimônia feita às pressas pelo Instituto Butantan, que iniciou sua imunização com a primeira dose da vacina desenvolvida em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac.

“Eu passei a ser uma pessoa pública. Eu saio na rua, as pessoas me conhecem, é muita entrevista, muita informação. Hoje eu tenho mais cautela com o que eu falo, porque o que eu falo tem um peso importante. Antes, minha fala não tinha tanta importância, hoje já tem pela representatividade, pela questão da vacina.”, declarou a enfermeira em entrevista ao especial Relatos de Março, minissérie de CartaCapital sobre mulheres que marcaram o primeiro ano da pior crise sanitária do século. 

Mônica Calazans mora em Itaquera e trabalha tanto no Emílio Ribas, localizado na região oeste, como no Pronto Atendimento do Hospital São Mateus, na Zona Leste. A rotina dupla de trabalho é comum entre profissionais da enfermagem, conta, profissão majoritariamente ocupada por mulheres.

“Eu tento me organizar nas minhas folgas para fazer minhas tarefas diárias. Eu não tenho filho pequeno, eu já não tenho aquele cuidado de criança ou de fazer comida todo dia. Mas eu imagino quantas mães fazem o mesmo que eu e não tem um apoio. Eu valorizo muito essas pessoas que fazem essa jornada.”

A rotina de duplas e triplas jornadas de trabalho – que consistem no trabalho formal, doméstico e de cuidados, comum à rotina de grande parcela das brasileiras – também fez parte da história de Calazans. Na pandemia, no entanto, ela via os impactos do fechamento das escolas nas equipes que coordenava, conta.

“Eu vou falar pelo exemplo que eu tenho de uma profissional que trabalha comigo. E eu como líder, chefia dela, percebia a dificuldade que ela tinha porque o filho ficava em casa, o marido trabalhava com Uber, e o filho ficava ligando para ela porque ele não conseguia acompanhar as aulas via computador. Teve dias que ela teve que faltar no serviço por conta de auxiliar o filho na escola.”

Com cerca de 20 anos de carreira entre a atuação inicial enquanto auxiliar de enfermagem e, depois, bacharel na profissão, Mônica diz que, se tivesse a caneta dos recursos públicos na mão, destinaria verba para o atendimento primário neste momento da pandemia.

Enquanto a Covid segue pesando sobre a realidade vivida pelos brasileiros, Mônica reafirma os votos na fé, esperança e positividade. Mas não se engana com discursos que pairam por aí. “Não vamos deixar cair em esquecimento o uso da máscara, evitar aglomerações, isolamento social quando necessário. Isso é necessário até todo mundo ser imunizado, e lá na frente a gente joga isso fora e volta a ser feliz.”