Sociedade

Menina

Este poderia ser o nome da bola na Copa 2014, em homenagem ao craque Didi

Foto: Ben Sutherland/Flickr
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Por Afonsinho

Com cerimônia muito bonita, encerraram-se os Jogos de Londres-2012. Emoções de todo tipo durante as disputas. Sensações extremadas, às vezes contraditórias, num intervalo mínimo. Céu-inferno e vice-versa quase ao mesmo tempo. Esporte.

Congraçamento, o desejo maior cobrindo tudo.

A nós restou um buraco escuro. A necessidade de assumir as responsabilidades de sediar a Copa das Confederações 2013, Copa 2014 e Olimpíadas 2016. Ao mesmo tempo, a consciência de precisar dar o máximo em todo esse período, em todas as formas de participação, exigindo sempre mais, fiscalizando mais, conquistando mais e mais benefícios.

Não podemos esquecer: é um tempo excepcional de eventos mundiais. Depois de tudo vai custar um tempo de “seca”. A depender do que se lograr agora, serão os anos seguintes. Mãos às obras!

A mim restou o sentimento de ter de optar entre a Copa e a Olimpíada. O fracasso da Seleção Olímpica fez desabrochar de uma vez tudo que se dizia dos desmandos a que o futebol está (estamos?) submetido. Achamos que no futebol, ao menos, os erros vêm de cima.

Qual é a situação política da CBF? Não engana mais ninguém o descaminho do futebol. Na escolha do treinador, sem estofo suficiente para comandar a história da Seleção. A convocação da equipe olímpica foi mais uma decepção pelo que ela mostrou de compromissos escusos.

Além do mais, o tempo para se fazer um bom trabalho num esporte coletivo é insuficiente a esta altura. Nesse ponto há um erro de base. Deve-se preparar uma equipe, amadurecê-la, dar-lhe consistência. Assim, seus craques destacados, às vezes geniais, vão brilhar.

O que se tem feito, a exemplo desse time olímpico, é um “catado”, como se diz no futebol. Os craques mais exuberantes não rendem, são usados como “bucha” e pagam um “pato” que não criaram.

De tudo que aconteceu de tão emocionante na Olimpíada, o que mais me impressionou foi o estado emocional da equipe russa masculina de vôlei. Mesmo quando perdia pelo mais largo placar, o semblante dos atletas mostrava um equilíbrio incrível, para mim inexplicável até agora. Próprio dos grandes campeões.

Fez lembrar a célebre cena de Didi depois que o Brasil tomou o primeiro gol na final contra a Suécia, em 1958, sem ao menos tocar na bola. Didi pegou a bola e, andando calmamente, colocou-a na marca central do gramado e incitou seu time a golear os donos da casa com um futebol da mais pura arte. E empenho.

Vamos continuar torcendo, acompanhando de perto, criticando, mas com a atenção dirigida para a construção da Seleção Olímpica de 2016.

Outro equívoco de base exposto na Olimpíada: ficou nítido o engano de se montar um time partindo da valência física. A lógica deveria ser diferente, preparar o jogador com talento para o futebol em vez de adestrar um atleta para praticar futebol. Por mais que pareça, e é, primário, acontece com frequência. Jogadores que batem o adversário pela força e precisam de espaço para vencer o adversário e se atrapalham nos espaços reduzidos (não sabem driblar) é quase uma norma.

Ainda falando de Jogos Olímpicos: foi impressionante a semelhança da final com a decisão do Mundial da França. Poucas vezes vi jogo tão parecido. O time do Brasil mal distribuído, jogadores tomando dribles desconcertantes (canetas e chapéus, lençóis ou banhos de cuia), conforme o tipo do drible ou a região do Brasil. O gol de cabeça muito semelhante ao do Zidane naquela Copa.

Os treinadores dos dois times, um espetáculo à parte. Mano Menezes, desconcertado, passou a maior parte do tempo às turras com o bandeirinha e o mesário, mostrando despreparo para arbitragem no estilo europeu, boa por sinal. O mexicano, angustiado com a surpresa de estar vencendo o Brasil desde os 20 e poucos segundos e ter de sustentar aquele resultado ao menos até o fim.

Outra curiosidade. Somente agora, numa exibição das bolas usadas nos campeonatos mundiais, fiquei conhecendo a redonda do Mundial dos Estados Unidos chamada Questra (não sei o que significa). Não ficou tão famosa como a Jabulani e não deve ter sido tão boa como a Tango, até hoje inesquecível.

Deixo minha sugestão para o nome da bola para a Copa de 2014: Menina. Como a chamava o já citado Didi e está num dos maiores sucessos da música brasileira (é ela MENINA que vem e que PASSA).

Parabéns a todos os atletas que participaram do encontro mais expressivo da comunidade humana, especialmente aos nossos representantes, e mais ainda aos medalhistas, por seus êxitos.

P.S.: Enquanto escrevo esta página, vejo a notícia da intervenção do Ministério Público nas instalações das divisões de base de um clube do Rio de Janeiro. Apenas para lembrar que na grande maioria dos clubes sempre foi dessa forma e muitas vezes é ainda pior. Prova da péssima distribuição dos recursos que o esporte movimenta.

Por Afonsinho

Com cerimônia muito bonita, encerraram-se os Jogos de Londres-2012. Emoções de todo tipo durante as disputas. Sensações extremadas, às vezes contraditórias, num intervalo mínimo. Céu-inferno e vice-versa quase ao mesmo tempo. Esporte.

Congraçamento, o desejo maior cobrindo tudo.

A nós restou um buraco escuro. A necessidade de assumir as responsabilidades de sediar a Copa das Confederações 2013, Copa 2014 e Olimpíadas 2016. Ao mesmo tempo, a consciência de precisar dar o máximo em todo esse período, em todas as formas de participação, exigindo sempre mais, fiscalizando mais, conquistando mais e mais benefícios.

Não podemos esquecer: é um tempo excepcional de eventos mundiais. Depois de tudo vai custar um tempo de “seca”. A depender do que se lograr agora, serão os anos seguintes. Mãos às obras!

A mim restou o sentimento de ter de optar entre a Copa e a Olimpíada. O fracasso da Seleção Olímpica fez desabrochar de uma vez tudo que se dizia dos desmandos a que o futebol está (estamos?) submetido. Achamos que no futebol, ao menos, os erros vêm de cima.

Qual é a situação política da CBF? Não engana mais ninguém o descaminho do futebol. Na escolha do treinador, sem estofo suficiente para comandar a história da Seleção. A convocação da equipe olímpica foi mais uma decepção pelo que ela mostrou de compromissos escusos.

Além do mais, o tempo para se fazer um bom trabalho num esporte coletivo é insuficiente a esta altura. Nesse ponto há um erro de base. Deve-se preparar uma equipe, amadurecê-la, dar-lhe consistência. Assim, seus craques destacados, às vezes geniais, vão brilhar.

O que se tem feito, a exemplo desse time olímpico, é um “catado”, como se diz no futebol. Os craques mais exuberantes não rendem, são usados como “bucha” e pagam um “pato” que não criaram.

De tudo que aconteceu de tão emocionante na Olimpíada, o que mais me impressionou foi o estado emocional da equipe russa masculina de vôlei. Mesmo quando perdia pelo mais largo placar, o semblante dos atletas mostrava um equilíbrio incrível, para mim inexplicável até agora. Próprio dos grandes campeões.

Fez lembrar a célebre cena de Didi depois que o Brasil tomou o primeiro gol na final contra a Suécia, em 1958, sem ao menos tocar na bola. Didi pegou a bola e, andando calmamente, colocou-a na marca central do gramado e incitou seu time a golear os donos da casa com um futebol da mais pura arte. E empenho.

Vamos continuar torcendo, acompanhando de perto, criticando, mas com a atenção dirigida para a construção da Seleção Olímpica de 2016.

Outro equívoco de base exposto na Olimpíada: ficou nítido o engano de se montar um time partindo da valência física. A lógica deveria ser diferente, preparar o jogador com talento para o futebol em vez de adestrar um atleta para praticar futebol. Por mais que pareça, e é, primário, acontece com frequência. Jogadores que batem o adversário pela força e precisam de espaço para vencer o adversário e se atrapalham nos espaços reduzidos (não sabem driblar) é quase uma norma.

Ainda falando de Jogos Olímpicos: foi impressionante a semelhança da final com a decisão do Mundial da França. Poucas vezes vi jogo tão parecido. O time do Brasil mal distribuído, jogadores tomando dribles desconcertantes (canetas e chapéus, lençóis ou banhos de cuia), conforme o tipo do drible ou a região do Brasil. O gol de cabeça muito semelhante ao do Zidane naquela Copa.

Os treinadores dos dois times, um espetáculo à parte. Mano Menezes, desconcertado, passou a maior parte do tempo às turras com o bandeirinha e o mesário, mostrando despreparo para arbitragem no estilo europeu, boa por sinal. O mexicano, angustiado com a surpresa de estar vencendo o Brasil desde os 20 e poucos segundos e ter de sustentar aquele resultado ao menos até o fim.

Outra curiosidade. Somente agora, numa exibição das bolas usadas nos campeonatos mundiais, fiquei conhecendo a redonda do Mundial dos Estados Unidos chamada Questra (não sei o que significa). Não ficou tão famosa como a Jabulani e não deve ter sido tão boa como a Tango, até hoje inesquecível.

Deixo minha sugestão para o nome da bola para a Copa de 2014: Menina. Como a chamava o já citado Didi e está num dos maiores sucessos da música brasileira (é ela MENINA que vem e que PASSA).

Parabéns a todos os atletas que participaram do encontro mais expressivo da comunidade humana, especialmente aos nossos representantes, e mais ainda aos medalhistas, por seus êxitos.

P.S.: Enquanto escrevo esta página, vejo a notícia da intervenção do Ministério Público nas instalações das divisões de base de um clube do Rio de Janeiro. Apenas para lembrar que na grande maioria dos clubes sempre foi dessa forma e muitas vezes é ainda pior. Prova da péssima distribuição dos recursos que o esporte movimenta.

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