Sociedade
Luciano Hang é condenado por espalhar fake news sobre reitor da Unicamp
Hang deverá publicar retratação no Twitter, onde acusou reitor de ter gritado ‘viva a revolução’, e pagar R$ 20,9 mil por danos morais
O empresário bolsonarista Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan, foi condenado a pagar R$ 20,9 mil reais para o reitor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Marcelo Knobel, após publicar falsamente que o professor teria gritado “Viva la Revolução” em uma formatura da universidade. De acordo com as audiências feitas ao longo do processo, foi confirmado que Knobel não estava presente no evento.
No dia 24 de julho de 2019, Hang publicou a seguinte mensagem em sua conta do Twitter: “Unicamp final ano passado amigo meu acaba de contar foi formatura sobrinho no final o Reitor grita : “Viva la Revolução “ e depois dizem que nossas universidades não estão contaminadas? Vá pra Venezuela Reitor FDP.”
Ainda é possível encontrar o tweet nas redes sociais do empresário:
Unicamp final ano passado amigo meu acaba de contar foi formatura sobrinho no final o Reitor grita : “Viva la Revolução “ e depois dizem que nossas universidades não estão contaminadas? Vá pra Venezuela Reitor FDP.
— Luciano Hang (@luciano_hang) July 24, 2019
Segundo o juiz Mauro Iuji Fukumoto, da 1ª Vara da Fazenda Pública de Campinas, ao fazer o comentário de que as universidades “estão contaminadas”, Hang “procura atribuir-lhe [a Marcelo Knobel] a pecha de radical e extremista – alguém que, em evento acadêmico, manifesta uma posição política, sem qualquer relação com o contexto em que se encontra, sendo incapaz de dissociar sua suposta opção ideológica dos deveres inerentes ao cargo que ocupa.”
Segundo o apurado em audiências no âmbito da investigação do processo, Knobel não estava presente na formatura alegada pela defesa de Luciano Hang. Quem teria dito algo semelhante seria um representante da reitoria da universidade, e não o reitor em si.
“As duas testemunhas ouvidas em juízo reafirmaram, em linhas gerais, […] que, durante a colação de grau do curso de Engenharia de Computação da UNICAMP, “um dos integrantes da mesa de autoridades gritou: “Viva la Revolução”. Não seria, pois, o segundo requerente quem proferiu a frase – em juízo, afirmaram as testemunhas que se tratava de um representante do Reitor da Universidade, e não o próprio. A testemunha Alexandre relata ter ouvido “Viva a resistência”, e não “Viva la revolução”, o que em nada modifica a situação.”, escreveu o juíz.
Além do pagamento de 20 salários mínimos por danos morais, Hang também deverá publicar uma retratação em seu Twitter, com uma postagem em número similar de caracteres. Caso não cumpra a decisão em até dez dias depois da publicação da decisão do juiz, que consta do dia 20 de maio, ele poderá ser multado em R$ 1 mil a cada dia que desrespeitar a decisão judicial. Ainda cabe recurso. Até o momento, o empresário não se manifestou nas redes sociais sobre o assunto.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.