Sociedade
Líderes indígenas apelam à Europa por proteção e defesa da Amazônia
Lideranças acusam Bolsonaro e seu discurso de ódio pelo aumento da violência contra os indígenas no Brasil


Uma delegação de líderes indígenas brasileiros lançou nesta terça-feira 12, em Paris, um apelo à Europa para que assuma sua responsabilidade e defenda a Amazônia e seus povos autóctones, ameaçados pelas políticas do presidente Jair Bolsonaro.
Desde meados de outubro, oito dirigentes da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) protagonizam a jornada “Sangue indígena: nenhuma gota a mais”, que os levou a várias cidades no continente europeu. O grupo vem se reunindo, sobretudo, com políticos e empresários.
Por um lado, o grupo espera atrair o maior apoio frente a Bolsonaro, a quem acusam de estimular a violência contra suas comunidades. Por outro, apontam a responsabilidade dos europeus – empresas e consumidores – na exploração da Amazônia, especialmente com futura assinatura do acordo de livre-comércio UE-Mercosul.
“O discurso de ódio e de violência de Bolsonaro está estimulando a sociedade a cometer atos contra os indígenas”, denunciou Sonia Guajajara, coordenadora-executiva da APIB, que representa 305 etnias.
Desde antes de assumir o governo em 1º de janeiro deste ano, Bolsonaro afirmou que não permitiria o reconhecimento de novos territórios indígenas e defendeu a exploração de recursos naturais em suas reservas.
Segundo a APIB, 136 líderes de defesa dos direitos humanos e ativistas – incluindo indígenas – foram assassinados desde o final de 2018 no Brasil. Desde janeiro deste ano, registraram-se 109 invasões de territórios autóctones, além do aumento de incêndios de origem criminosa.
“Não podemos continuar lutando sozinhos”, desabafou Guajajara, lembrando que os indígenas têm, tradicionalmente, o papel de “guardiães” da Amazônia, um imenso território natural, vital na luta contra a mudança climática.
Aumento da violência
A violência “certamente vai disparar” com o acordo de livre-comércio UE-Mercosul, advertiu Angela Kaxuyana, que integra a Articulação.
Além de produtos como soja e carne bovina, cujo comércio com a UE está previsto neste tratado, “os metais, como o ouro, nos preocupam, especialmente, porque sua exploração aumentará a invasão das nossas terras”, afirmou Kaxuyana.
A assinatura final deste acordo está prevista para o final de 2020, embora alguns países como França e Irlanda tenham deixado claras as suas reservas, diante da política ambiental do governo Bolsonaro.
Kreta Kaygang, líder indígena da APIB, criticou a França, por se tratar de um “grande exportador” de armamento para o Brasil, e Bolsonaro, por querer flexibilizar a posse e o porte de armas. Algo que, segundo ela, agravaria o “massacre” dos indígenas.
Até agora, entre outras cidades, a delegação passou por Roma, Berlim e Bruxelas e deve concluir sua viagem na Espanha.
Conforme o líder Dinaman Tuxá, com UE e Noruega, estabeleceu-se um “canal de diálogo institucional para transmitir informações e pedir que aja contra o malefício do agronegócio”.
Itália, Alemanha e Noruega também se comprometeram a “aplicar leis para proibir a entrada, em seu território, de produtos originários destas zonas de conflito e a criar mecanismos de punição”, completou Tuxá.
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