Sociedade
Justiça torna réus PMs acusados de matar homem já rendido em São Paulo
Agentes vão responder por homicídio doloso após disparos com fuzil contra um homem em situação de rua; imagens da câmera nos uniformes contradiz a versão apresentada pelos policiais


A Justiça de São Paulo tornou réus dois policiais acusados de matar um homem em situação de rua no centro da cidade, quando a vítima já estava rendida. O caso aconteceu em junho.
Os PMs Alan Wallace dos Santos Moreira e Danilo Gehring, que já estão presos, responderão por homicídio doloso, com as qualificadoras de motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima.
Jeferson de Souza, de 23 anos, teve oito perfurações a bala no corpo, sendo duas na cabeça, segundo registro policial feito pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa. A vítima chegou a ser socorrida e encaminhada ao pronto socorro da Santa Casa, mas não resistiu.
Na denúncia, o MP apontou que os réus realizavam patrulhamento de rotina quando resolveram abordar o homem após vê-lo descendo de uma árvore. Ao constatarem que a vítima não portava documentos, os PMs a levaram para trás de um pilar sob o Viaduto 25 de Março. Lá, um dos policiais executou o homem com três tiros de fuzil, apesar de ele estar rendido e subjugado.
Ainda de acordo com o órgão, o segundo PM aderiu ao propósito homicida de seu colega de farda e colocou a mão sobre a lente da câmera corporal no momento dos disparos para obstruir o registro da execução.
Em uma versão inicial sobre o caso, os PMs sustentaram que teriam sido surpreendidos pelo homem, em ‘estado alterado’, e que ele teria tentado investir contra os agentes quando anunciaram que ele seria conduzido à delegacia para averiguação. A vítima teria dito que era procurado por estupro e agressão.
A versão, no entanto, foi desmentida pelas imagens das câmeras corporais dos agentes, as quais o MP teve acesso. A morte ocorre por volta de 21h25, quando o tenente Allan efetua três disparos de fuzil contra Jeferson, sendo que um deles atingiu o homem na cabeça. As imagens não mostram a vítima tentando tomar a arma do soldado Danilo, como disseram os policiais. Durante a abordagem, o homem chora e não demonstra resistência. Após os disparos, Danilo tenta encobrir a filmagem da câmera corporal.
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