Sociedade
Irmãos confessam envolvimento em assassinato de Dom Philips e Bruno Pereira na Amazônia
Amarildo da Costa de Oliveira, conhecido como Pelado, e o irmão, Oseney da Costa Oliveira, admitiram o crime à Polícia Federal


Depois de quase duas semanas de buscas e intensa comoção internacional, o desaparecimento do jornalista inglês Dom Philips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira na região do Vale do Javari, no Amazonas, caminha para um trágico desfecho.
Nesta quarta-feira 15, dois suspeitos detidos confessaram envolvimento no assassinato os dois. Amarildo da Costa de Oliveira, conhecido como Pelado, e o irmão Oseney, conhecido como “dos Santos” disseram à PF Dom e Bruno foram executados após terem sido flagrados pescando ilegalmente. Os corpos teriam sido mutilados e incendiados.
Pela manhã, Amarildo foi levado ao local das buscas em um barco da PF, junto ao promotor que acompanha o caso. Um cão farejador também foi levado para ajudar nas buscas.
Bruno Pereira e Dom Philips estavam desaparecidos desde domingo 5, quando saíram da comunidade de São Rafael em direção a cidade de Atalaia do Norte em um barco. Desde aquele dia, voluntários das etnias Marubo, Maiuruna, Mati, Kulina e Kanamari lideraram as buscas pelos dois.
No dia do desaparecimento, Bruno havia marcado uma reunião com uma pessoa conhecida como “Churrasco”, tio dos dois suspeitos presos. A reunião que deveria tratar da invasão das terras indígenas por pescadores ilegais não ocorreu, mas o indigenista deixou seu contato com a esposa de “Churrasco”.
No último domingo 12, a Polícia Federal encontrou o encontro dos pertences e documentos de Dom e Bruno submersos, amarrados a uma árvore. Anteriormente, fora localizado “material orgânico aparentemente humano” na região.
Uma das testemunhas ouvidas pela PF contou ter visto Pelado carregando uma espingarda e um cinto de munições após o indigenista e do jornalista deixarem a comunidade de São Rafael. Outros relatos indicam que a embarcação do suspeito perseguiu, naquele mesmo dia, o barco de Bruno e Dom, a menos de 2 quilômetros de onde foram encontrados os pertencentes da dupla.
O indigenista havia informado à amigos e colegas de trabalho que recebia ameaças de madeireiros, garimpeiros e pescadores ilegais constantes por conta de seu trabalho na região.
Uma apuração do jornal O Globo revelou também que Bruno participou de uma apreensão de peixes que seriam usados em um esquema de venda de animais para lavagem de dinheiro do narcotráfico. A ação teria contrariado os interesses do narcotraficante Rubens Villar Coelho, conhecido como “Colômbia”. O mercado de pesca ilegal tem íntimos laços com o tráfico.
Ainda conforme o documento elaborado pela PF, o procurador jurídico da Univaja afirmou ter recebido uma mensagem de Bruno, na qual o indigenista dizia temer por sua vida e que a reunião marcada com “Churrasco”, poderia “dar em algum problema”.
— Reportagem em atualização —
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

PF prende mais um suspeito na investigação sobre desaparecimento de Bruno e Dom
Por Estadão Conteúdo
Impunidade da era Bolsonaro pode explicar o desaparecimento de Dom e Bruno na Amazônia, denuncia Le Monde
Por RFI