Sociedade

Internautas lembram sensibilidade social de Marília Mendonça

A cantora, que morreu aos 26 anos, tinha ‘capacidade de escuta’ e procurava ouvir minorias, diz coletivo

A cantora Marília Mendonça morreu aos 26 anos. Foto: Reprodução/Facebook
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Após a trágica morte da cantora Marília Mendonça, nesta sexta-feira 5, em um acidente de avião na cidade de Caratinga (MG), internautas fizeram uma série de homenagens à artista, e muitos lembraram de sua sensibilidade para problemas sociais e minorias.

Um exemplo é a organização antirracista Pretitudes, que declarou no Instagram que a artista apoiou a iniciativa “sem nunca querer divulgação por isso”.

O coletivo disse “lamentar profundamente” o ocorrido e afirmou que a cantora era “dona de um talento incrível” e “possuía uma capacidade de escuta e reconhecer seus erros quando apontados, sempre procurando minorias para debater, formar e evoluir”.

O Pretitudes é uma organização sem fins lucrativos criada em 2019 que oferece projetos educativos, especialmente na área de formação antirracista. O projeto apoiado por Marília Mendonça, ocorrido em 2020, beneficiou 225 jovens com o pagamento de cursos pré-vestibular e de inscrições para o Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem.

O coletivo lembra que, à época, a pauta antirracista estava em alta na internet, por causa do assassinato brutal de George Floyd nos Estados Unidos e dos protestos que ocorreram na sequência.

De acordo com a coordenação do projeto, o total arrecadado à época, incluindo todos os doadores, foi de 47 mil reais. A maioria dos beneficiados foi de jovens negros e pardos. Neste ano, o projeto funcionou com um método diferente, em que não houve campanha de arrecadação.

A página do Pretitudes está disponível no Instagram, por meio do endereço @pretitudes. Segundo descrição, mais de 30 mil pessoas já se formaram a partir dos projetos da organização. No site, o coletivo dispõe de meios para que interessados possam enviar contribuições avulsas.

Doações e posicionamentos

Outro internauta lembrou uma doação de 100 mil reais por parte de Marília Mendonça ao Instituto São Vicente de Paulo, da cidade de Campina Grande, na Paraíba.

A instituição foi fundada há 80 anos e tem atividades voltadas para idosos carentes. A ajuda ocorreu em 2017, após apresentação da cantora para um público de mais de 100 mil pessoas. Em junho daquele ano, a Prefeitura de Campina Grande chegou a noticiar a doação nas redes sociais, o que chamou de “gesto nobre”.

Usuários também recordaram a live de Marília Mendonça em abril de 2020, no início da pandemia, em que a cantora arrecadou mais de 225 toneladas de alimentos. A iniciativa, que foi um sucesso de audiência, fez parte do projeto Mesa Brasil Sesc, uma rede nacional de bancos de alimentos contra a fome. O show, realizado nas primeiras semanas de quarentena, veiculou mensagens de incentivo para que a população ficasse em casa.

Não faltaram referências também a posicionamentos políticos da artista. As suas letras ficaram conhecidas por dar um tom feminista ao sertanejo, colocando as mulheres como protagonistas das situações, como na faixa Supera, em que ela dá orientações “de mulher para mulher” sobre um relacionamento abusivo.

Além disso, em 2018, ao aceitar um desafio da cantora Maria Gadú, ela declarou voto contra a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência – uma atitude bastante particular no mundo do sertanejo.

“Com certeza, Marília Mendonça é ‘ele não’. Quero que você, mulher, repense muito bem se você precisa desse retrocesso na sua vida, se você merece esse retrocesso na sua vida”, disse a cantora, em vídeo publicado na internet.

Outro registro relembrado foi o de um pedido de desculpas de Marília Mendonça ao reconhecer uma declaração transfóbica realizada em uma transmissão ao vivo. Em outubro de 2020, a cantora disse aproveitar o pico de audiência para se pronunciar sobre o caso. O ato acabou sendo visto como uma lição de responsabilidade com a comunidade LGBT, ainda que um erro tenha sido cometido.

“Não vim para me justificar sobre nada, porque eu não tenho razão nenhuma em me justificar. Sempre fui uma pessoa que presta muita atenção nos meus erros. Tenho tentado aprender cada vez mais. Tenho tentado me consertar. Acho que é do ser humano errar, mas a gente precisa prestar bastante atenção”, declarou à época. Na sequência, ela exibiu um vídeo de uma mulher trans, Alice Félis, que tinha 26 anos quando foi agredida dentro de um apartamento.

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