Sociedade

Internautas cobram apoio da CNBB e de padres famosos a Julio Lancellotti, que pode ser alvo de CPI

O pároco pode virar alvo da CPI das ONGs, protocolada pelo vereador Rubinho Nunes (União), em novembro do ano passado, que mira instituições de apoio à população da Cracolândia

Imagem: Renato Luiz Ferreira
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A possível instalação da CPI das ONGs na Câmara Municipal de São Paulo, em fevereiro, fez com que internautas fossem às redes cobrar apoio ao padre Julio Lancellotti por parte de padres e instituições religiosas. Os relatos questionam o silêncio dos representantes no momento em que o pároco sofre uma ofensiva por parte da direita política.

As mensagens que a reportagem reuniu cobram posicionamentos de instituições como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Renovação Carismática Católica e outras fraternidades, como a Toca de Assis.

Tem uma coisa estranha nessa perseguição ao Padre Júlio: ele faz parte de uma das instituições mais poderosas do ocidente, a Igreja Católica. Com histórico de se envolverem em defesas difíceis pelos seus sacerdotes, cheias de organizações com influência política como a CNBB. Por que a Igreja tá parada, assistindo todas as insinuações contra o Padre?”, questionou um usuário do X, antigo Twitter.

“Se a instituição, Igreja católica, se mobilizasse, toda essa história já seria tirada a limpo. Para o bem ou não, mas onde está a posição da CNBB, da Renovação Carismática ou das ordens como a Toca de Assis? A imprensa tá ignorando todos eles ou eles que estão ignorando essa história?”, emendou, na publicação.

Outro perfil questionou o silêncio do padre Fabio de Melo, sacerdote católico.

“Ei@pefabiodemelo como vc não usa sua fama para defender o Padre Julio? a vida não é só ser jurado de programa de auditório e ir na ana maria braga não”, registrou.

Em nota enviada à reportagem, a Arquidiocese de São Paulo diz acompanhar com “perplexidade” as notícias sobre a possível abertura da CPI.

“Na qualidade de Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua, Padre Júlio exerce o importante trabalho de coordenação, articulação e animação dos vários serviços pastorais voltados ao atendimento, acolhida e cuidado das pessoas em situação de rua na cidade”, diz o comunicado.

“Reiteramos a importância de que, em nome da Igreja, continuem a ser realizadas as obras de misericórdia junto aos mais pobres e sofredores da sociedade.”

Entenda o caso

O padre Julio Lancellotti pode virar alvo da CPI das ONGs, protocolada pelo vereador Rubinho Nunes (União), em novembro do ano passado. O parlamentar alcançou 24 assinaturas de apoio à abertura da Comissão, que pode ser instalada em fevereiro, após o recesso da Câmara Municipal. Para a deliberação, são necessárias um total de 28 assinaturas e aprovação em plenário da Câmara.

Desde que conseguiu certo apoio na Câmara, o vereador vem subindo o tom acusatório contra o padre.

O padre Júlio Lancellotti não é um padre. Ele é um servo do petismo. Ele, e muitos outros, lucram politicamente com o caos instaurado na Cracolândia. A CPI que estou instaurando na Câmara Municipal de SP vai investigar toda essa Máfia da Miséria que se perpetua no poder através de ONGs esquerdistas”, registrou em suas redes sociais nesta quarta-feira 3.

O requerimento apresentado pelo vereador em novembro do ano passado não citava Lancellotti, mas levantava dúvidas sobre a atuação de instituições que prestam apoio humanitário a pessoas em situação de rua e a dependentes químicos da região da Cracolândia, caso do Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto (Bompar), ligado à igreja católica; e o movimento Craco Resiste, movimento social que atua contra a violência policial na Cracolândia.

À época, Nunes justificou que a atuação das organizações não está isenta de fiscalização e que, em algumas situações, “pode haver preocupações éticas, como a exploração de dependentes químicos, a prática de métodos questionáveis de tratamento ou a promoção de interesses particulares em detrimento do indivíduo”.

Em conversa com a reportagem de CartaCapital, o pároco reiterou não fazer parte de organizações não-governamentais, e esclareceu que seu trabalho é ligado à Arquidiocese de São Paulo.

“As CPIS são instrumentos legítimos do Poder Legislativo, que tem toda a autoridade e prerrogativa para implantá-las segundo o ritual de cada esfera do poder”, declarou. “Mas elas têm que ter um fim, um foco específico que, no caso, são as ONGS que prestam assistência à população da Cracolândia. Eu não faço parte de nenhuma ONG. Então quem tem que ser investigado é o poder público e as ONGs com as quais se estabelece convênios.”

“Não existe uma ONG Padre Júlio Lancelotti. A ação da qual eu participo da pastoral de rua é uma ação da Arquidiocese de São Paulo”, completou o pároco.

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