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Indicadores vitais

O fato é que já não suporto mais tantas informações sobre IPCA, IPCA-E, IGP, IGP-DI, Dow Jones, Nasdaq, Ibovespa, IBX, IBX50, S&P 500…

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De uma forma geral, em todos os países a economia ocupa um espaço enorme dos noticiários, talvez maior do que o preenchido pelas páginas policiais. Taí, ainda não inventaram um índice para monitorar isso… De qualquer forma, no Brasil, somos bombardeados por uma profusão de indicadores econômicos, explorados para prever a tendência de queda ou alta de tudo. Sem falar da interpretação econômica sobre todos os fatos.

Se o ministro da Fazenda dá um espirro na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, o Copom, é sinal de que o preço dos medicamentos pode subir 7,25%. Se a ministra das Relações Institucionais é fotografada de óculos escuros, mau sinal: as negociações do Planalto com a bancada ruralista não vão bem – o que significa um viés de alta do índice de inflação das famílias de baixa renda medida pela Fundação Getúlio Vargas. É um inferno!

Mas também é certo que a ocupação do nosso território pelos cientistas econômicos se deu em grande parte pelos anos de superinflação que a turma mais nova, felizmente, não sabe bem o que é. Os mais pobres, no final do dia, ficavam mais pobres. Os mais ricos, de uma noite para outra, ficavam mais ricos. Recebiam a visita da fada do overnight e faziam a festa. E empresários inescrupulosos ganhavam um dinheirão ao atrasarem o pagamento da folha dos empregados. Sem falar que se os negócios fossem mal, bastava pedir uma concordata. As dívidas eram corroídas pela inflação e os bens e demais ativos preservados. O tempo resolvia tudo, bastava ter paciência e não ter vergonha na cara.

O fato é que já não suporto mais tantas informações sobre IPCA, IPCA-E, IGP, IGP-DI, Dow Jones, Nasdaq, Ibovespa, IBX, IBX50, S&P 500, Hang Seng. E chega de tantas previsões sobre a próxima reunião do Copom, por mais que a Miriam Leitão seja muito simpática e inteligente. Aliás, verdade seja dita, procura sempre que possível escapar do contexto das “Zora Yonaras” a preverem o que vai acontecer com a crise da Grécia. Por que não voltamos a consultar oráculos, ao invés de tentarmos desvendar as entrelinhas das atas das reuniões do Copom?

A importância exagerada aos indicadores econômicos também me faz associar países a pacientes internados em UTIs apenas com os bolsos da calça monitorados. Todos aqueles aparelhinhos que emitem sons e produzem gráficos sofisticados dão conta de monitorar todas as bolsas do mundo, todos os indicadores imagináveis para orientar a administração dos medicamentos na dose certa.  Em geral, a receita clássica se repete: arrocho salarial e corte de benefícios sociais. Senão o paciente morre.

Mas e as demais funções vitais? Por que não se dá o devido destaque para os indicadores da Educação e da Saúde? Por que não acompanhamos com mais atenção, por exemplo, a evolução das notas de Português, Matemática, Ciências, História dos nossos estudantes? O tempo de espera nas filas dos hospitais, o índice de mortalidade infantil e o grau de satisfação da população com os serviços públicos?

Também pergunto por que o administrador público responsável é apenas aquele que limita os gastos com as pessoas e segue construindo viadutos, estradas, túneis e fontes luminosas, antenados apenas nos índices econômicos e nos limites de uma suposta responsabilidade fiscal?

A ponte para um futuro mais feliz pode depender da avaliação de outras respostas. Mas parece que o essencial é apenas salvar o bolso de alguns pacientes.

De uma forma geral, em todos os países a economia ocupa um espaço enorme dos noticiários, talvez maior do que o preenchido pelas páginas policiais. Taí, ainda não inventaram um índice para monitorar isso… De qualquer forma, no Brasil, somos bombardeados por uma profusão de indicadores econômicos, explorados para prever a tendência de queda ou alta de tudo. Sem falar da interpretação econômica sobre todos os fatos.

Se o ministro da Fazenda dá um espirro na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, o Copom, é sinal de que o preço dos medicamentos pode subir 7,25%. Se a ministra das Relações Institucionais é fotografada de óculos escuros, mau sinal: as negociações do Planalto com a bancada ruralista não vão bem – o que significa um viés de alta do índice de inflação das famílias de baixa renda medida pela Fundação Getúlio Vargas. É um inferno!

Mas também é certo que a ocupação do nosso território pelos cientistas econômicos se deu em grande parte pelos anos de superinflação que a turma mais nova, felizmente, não sabe bem o que é. Os mais pobres, no final do dia, ficavam mais pobres. Os mais ricos, de uma noite para outra, ficavam mais ricos. Recebiam a visita da fada do overnight e faziam a festa. E empresários inescrupulosos ganhavam um dinheirão ao atrasarem o pagamento da folha dos empregados. Sem falar que se os negócios fossem mal, bastava pedir uma concordata. As dívidas eram corroídas pela inflação e os bens e demais ativos preservados. O tempo resolvia tudo, bastava ter paciência e não ter vergonha na cara.

O fato é que já não suporto mais tantas informações sobre IPCA, IPCA-E, IGP, IGP-DI, Dow Jones, Nasdaq, Ibovespa, IBX, IBX50, S&P 500, Hang Seng. E chega de tantas previsões sobre a próxima reunião do Copom, por mais que a Miriam Leitão seja muito simpática e inteligente. Aliás, verdade seja dita, procura sempre que possível escapar do contexto das “Zora Yonaras” a preverem o que vai acontecer com a crise da Grécia. Por que não voltamos a consultar oráculos, ao invés de tentarmos desvendar as entrelinhas das atas das reuniões do Copom?

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Mas e as demais funções vitais? Por que não se dá o devido destaque para os indicadores da Educação e da Saúde? Por que não acompanhamos com mais atenção, por exemplo, a evolução das notas de Português, Matemática, Ciências, História dos nossos estudantes? O tempo de espera nas filas dos hospitais, o índice de mortalidade infantil e o grau de satisfação da população com os serviços públicos?

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