Sociedade

Igreja destruiu arquivos sobre abuso sexual, admite cardeal

Presidente da Conferência Episcopal Alemã, Reinhard Marx, reconheceu o acobertamento de crimes sexuais do clero

A Igreja nos EUA gastou até agora 3 bilhões de dólares em acordos judiciais
Apoie Siga-nos no

O cardeal alemão Reinhard Marx reconheceu neste sábado 23 que a Igreja Católica “destruiu” arquivos sobre abusos sexuais cometidos por sacerdotes contra menores de idade.

Falando na cúpula realizada no Vaticano sobre “a proteção dos menores na Igreja”, o presidente da Conferência Episcopal Alemã confirmou que “os arquivos que poderiam ter documentado esses atos terríveis e indicado os nomes dos responsáveis foram destruídos, ou nem chegaram a ser criados”.

Reivindicando a eliminação da norma do segredo pontifício nos casos de abusos a menores, o assessor próximo do papa Francisco reforçou: “Os processos e procedimentos estabelecidos para julgar os crimes foram deliberadamente ignorados, até mesmo cancelados ou anulados, e os direitos das vítimas foram pisados e deixados à mercê de cada indivíduo.”

Leia também: Surpreende que Bolsonaro trate a Igreja e o Papa como inimigos?

A terceira e última sessão da cúpula foi aberta com uma oração e o depoimento de mais uma vítima. Aos 114 presidentes e vice-presidentes de conferências episcopais de todo o mundo presentes, Marx acrescentou que “qualquer objeção baseada no segredo só seria relevante se fosse possível indicar razões convincentes”, mas que “como estão as coisas, não conheço essas razões”.

O arcebispo de Munique foi um dos três relatores neste sábado: “Na era das redes sociais, em que todos e cada um podem estabelecer contato quase imediato e trocas de informação através do Facebook, Twitter, é necessário redefinir a confidencialidade e o segredo, e fazer uma distinção em relação à proteção dos dados”, referiu.

Leia também: "É da Igreja para a Igreja", diz bispo sobre evento na mira do governo

Também o presidente da comissão para proteção de menores, o cardeal americano Sean Patrick O’Malley, afirmou ser “importante rever todo o conceito de segredo pontifício” em casos de abuso. O cardeal Marx insistiu, ainda, na necessidade da “comunicação ao público do número de casos e os detalhes relativos aos mesmos, na medida do possível”.

“Se fracassarmos, perderemos a oportunidade de manter um nível de autodeterminação sobre a informação ou nos exporemos à suspeita do acobertamento”, advertiu, exortando que sejam “estabelecidas normas e regras transparentes para os processos eclesiásticos”.

Leia também: Papa diz que Igreja jamais voltará a acobertar abusos sexuais

A eliminação do segredo pontifício – que vítimas de abusos pelo clero exigiram em numerosas ocasiões, considerando que protege os agressores – é uma das propostas que mais se tem ouvido desde o início da cúpula, na quinta-feira. Do evento, que se concluirá neste domingo 24 com uma missa e palavras de Francisco, participam, ao todo, 190 representantes da hierarquia religiosa.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo