Sociedade

Igreja Anglicana da Inglaterra aprova mulheres bispos

A medida dividia a Igreja da Inglaterra, que conta com 80 milhões de fiéis em 165 países do mundo, há décadas. A primeira mulher deve ser ordenada em 2015

Igreja Anglicana da Inglaterra aprova mulheres bispos
Igreja Anglicana da Inglaterra aprova mulheres bispos
Em York, na Reino Unido, integrantes da Igreja Anglicana comemoram a aprovação da medida que permite que mulheres se tornem bispos
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Por Katherine Haddon*

O sínodo geral da Igreja Anglicana da Inglaterra aprovou, nesta segunda-feira 14, a ordenação de mulheres como bispos, em uma medida histórica que dividia a instituição há anos e que deve abrir caminho para as primeiras ordenações em 2015.

Os três colégios de delegados reunidos em York (norte da Inglaterra) se pronunciaram a favor desta reforma, promovida pelo arcebispo de Canterbury, Justin Welby.

A Igreja da Inglaterra, surgida de um cisma na Católica, é a Igreja mãe da comunidade anglicana, que conta com 80 milhões de fiéis em 165 países do mundo.

A votação sobre esta reforma, que dividia a Igreja da Inglaterra há várias décadas, foi recebida com aplausos e até mesmo gritos de alegria, apesar de as autoridades eclesiásticas terem pedido uma postura mais cautelosa.

Cerca de 150 pessoas, incluindo mulheres sacerdotes, celebraram o acontecimento com garrafas de champagne.

Ao comemorar o resultado da votação, o arcebispo de Canterbury Justin Welby, que precisou usar todo seu talento de mediador para tentar convencer a ala mais conservadora da Igreja, evitou qualquer triunfalismo.

“Estou muito feliz com o resultado de hoje, que marca o início de uma grande aventura, de uma busca pelo desenvolvimento mútuo, apesar das divergências que persistem em alguns casos”, declarou.

A primeira mulher bispo poderia ser ordenada “no início do próximo ano” e “escolhida antes mesmo”, acrescentou.

Um dos principais líderes da Igreja da Inglaterra, o arcebispo de York, John Sentamu, saudou “um dia histórico”, observando que “gerações de mulheres serviram ao Senhor fervorosamente na Igreja da Inglaterra por séculos”.

Ele reconheceu que o processo foi longo: “Nós avançamos lentamente porque caminhamos juntos”, explicou.

“É absolutamente fantástico”, comemorou Lindsay Southern, uma mulher sacerdote de Yorkshire, que admitiu ter precisado “sentar-se calmamente, com uma xícara de chá, para assimilar” a mudança.

Por uma questão de coesão de uma Igreja que enfrenta o crescente desinteresse dos fiéis, medidas foram tomadas para apaziguar os opositores da reforma, incluindo os “anglo-católicos”, um grupo ligado ao Vaticano.

Desta forma, a aprovação da reforma pelo sínodo inglês não obrigará as outras igrejas anglicanas a ordenar mulheres bispos, embora envie uma mensagem forte.

Na Inglaterra, onde as mulheres podem, desde 1992, ser sacerdotes, a comunidade anglicana busca com esta proposta acabar com sua imagem de igreja retrógrada, em comparação com a atitude mais progressista de outras igrejas anglicanas, como em Gales, Estados Unidos, Austrália, Canadá e Suazilândia, que já autorizam a ordenação de mulheres como bispos.

Uma votação anterior, de novembro de 2012, terminou com apenas seis votos. Os dois primeiros colégios de bispos e do clero haviam aprovado a reforma, mas a iniciativa naufragou na resistência do colégio dos leigos.

O fracasso reavivou as profundas divisões dentro desta Igreja, que tem status oficial na Inglaterra, já que seu governador supremo é a Rainha Elizabeth II.

“Chegou o tempo de resolver algumas questões e seguir em frente”, declarou nesta segunda-feira em York Jane Hedges, sacerdote de Norwich, no leste da Inglaterra, que está cotada para se tornar bispo.

A reforma deve ser aprovada ainda pelo Parlamento antes de receber a aprovação da Rainha Elizabeth II. “Este é um grande dia para a Igreja e para a igualdade de direitos”, saudou o primeiro-ministro britânico, David Cameron, um fervoroso defensor deste avanço.

A mudança voltará a ser discutida em um sínodo geral em novembro, para ser definitivamente confirmada, em um passo que parece ser uma mera formalidade.

*Publicado originalmente na AFP.

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