Sociedade
Hospital alega motivos religiosos e veta aplicação de DIU e outros contraceptivos em SP
Em uma consulta médica, paciente foi informada que é diretriz da instituição não oferecer os métodos por ir ‘contra os valores religiosos’ de sua fundação


Os pacientes do Hospital São Camilo, na capital paulista, não têm acesso a nenhum método contraceptivo pela instituição. O motivo? Os valores religiosos católicos da rede.
O caso que repercutiu nesta terça-feira 23, no X (antigo Twitter), trouxe à tona a diretriz do hospital.
Na segunda-feira 22, durante uma consulta ginecológica, Leonor Macedo, foi orientada pela médica de que não poderia realizar a inserção do DIU (dispositivo intrauterino) na unidade.
Vocês acham que é fácil ser mulher? Ontem fui a uma consulta no Hospital São Camilo e à médica me informou que não pode colocar o DIU em mulheres porque isso vai contra os valores religiosos da instituição. 🫠🫠🫠
— Leonor Macedo (@subversiva) January 23, 2024
Caso quisesse prosseguir com o procedimento, ela teria de procurar outro hospital do plano de saúde.
Ao esclarecer o ocorrido, o Hospital reiterou que é uma instituição religiosa e não realiza nenhum procedimento contraceptivo em mulheres e homens. A única exceção, em relação ao DIU, são casos de endometriose grave.
“É de nosso interesse prestar as informações necessárias. Por diretriz institucional de uma instituição católica, não há a realização de procedimentos contraceptivos, seja em homens e mulheres“, afirmou a rede, em resposta à publicação de Macedo.
E completou: “Quando é assim, orientamos que a pessoa busque a rede referenciada do seu plano de saúde que tenha esse procedimento contemplado. Permanecemos à disposição”.
A regra não é recente. Outros dois casos semelhantes também foram registrados por pacientes em 2020 e 2021.
No entanto, em um deles, a mulher só foi informada que a instituição não realiza o procedimento após pagar as consultas e exames.
“Estou me sentindo péssima, ele ganhou o dinheiro da consulta sem fazer nada, sem solicitar a troca do meu DIU. Ele teria que ter me falado isso no primeiro dia que fui e não hoje”, descreveu uma paciente ao solicitar o estorno da consulta no site Reclame Aqui, posteriormente respondido pela rede.
A diretriz também vale para outros quatro hospitais da instituição localizados em São Paulo. O Hospital, fundado em 1960, conta ainda com um plano de saúde próprio e 33 unidades no país.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Muita gente esqueceu o que escreveu, disse ou defendeu. Nós não. O compromisso de CartaCapital com os princípios do bom jornalismo permanece o mesmo.
O combate à desigualdade nos importa. A denúncia das injustiças importa. Importa uma democracia digna do nome. Importa o apego à verdade factual e a honestidade.
Estamos aqui, há 30 anos, porque nos importamos. Como nossos fiéis leitores, CartaCapital segue atenta.
Se o bom jornalismo também importa para você, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal de CartaCapital ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Presidente do Senado francês se opõe a incluir o aborto na Constituição
Por AFP
Nova lei antiaborto em Goiás obriga gestante a ouvir o batimento do feto
Por Camila da Silva
Justiça manda prefeitura de São Paulo retomar serviço de aborto legal em hospital
Por Wendal Carmo