Sociedade

Haddad, ajuda o Parque Augusta!

Não faz sentido São Paulo entregar às empreiteiras sua última área permeável no meio da maior crise de água que se tem notícia

Parque Augusta: prédios ao fundo dão mostra do que pode acontecer com o terreno
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Prefeito Haddad, meu prefeito gato e tranquilão, inspiração política e um cara que pensa o futuro desta cidade de São Paulo. Prefeito, ajuda o Parque Augusta!

Vou escrever Parque com letra maiúscula porque aquele quarteirão de 25 mil m² no Baixo Augusta, região central da capital, já é muito mais que um terreno baldio à espera de um empreendimento. É uma beleza de lugar. Está cheio de grafite, de vida. Até o dia 4, quando houve a reintegração de posse, estava cheio de gente alegre, jovial e sonhadora, gente se apropriando da cidade, desta São Paulo tão cheia de concreto.

Eu sei que o município não tem dinheiro para desapropriar a área, os mais de 200 milhões de reais pedidos pela a Cyrella e a Setin (e o valor mais que triplicou e só faz aumentar quando a gente fica aqui militando para garantir que a única área verde e permeável remanescente no Centro continue assim, sem uma torre sequer).

O Parque Augusta é retrato fiel da sanha da especulação imobiliária que tem ditado o crescimento errático e desumano de São Paulo. Mas a prefeitura pode sim ajuda a viabilizar o Parque, sem gastar rios de dinheiro, nem usar a verba tão esperada para a construção de creches para atender nossas crianças.

Sua colega da USP, a urbanista Raquel Rolnik, defende que se use como uma das fontes de financiamento um instrumento previsto no Plano Diretor e no Estatuto das Cidades, a Transferência do Direito de Construir. Nesse caso, a Setin e a Cyrella receberiam títulos equivalentes aos metros quadrados de potencial de construção do Parque, garantindo o direito de construir em outro lugar da cidade. Ou seja, nenhum centavo do empobrecido Tesouro paulistano.

É claro que não faz sentido a prefeitura investir uma fábula numa região que, bem ou mal, tem uma boa dose de espaço público à disposição (vide a borbulhante Praça Roosevelt ali pertinho). Se for para gastar milhões em desapropriações que seja para parques na periferia, região de calçadas estreitas e quarteirões apertados, sem respiro verde.

Mas o Parque Augusta é necessário. E é preciso derrubar, e muito, o valor que as construtoras pedem. Afinal, elas precisam dar sua parcela de contribuição e retorno a esta cidade que já as faz tão ricas. Fale para elas, prefeito, de um sujeito chamado Assis Chateaubriand, que construiu até um museu de presente para São Paulo.

Eu entendo que o Parque Augusta não seja a prioridade de investimentos da gestão da cidade. Mas o Parque Augusta, por essas ironias da vida, é ao mesmo tempo uma prioridade para São Paulo. Não faz sentido que, no meio da maior crise de água que se tem notícia, a cidade entregue sua última grande área permeável no Centro para o concreto e a especulação imobiliária.

O Ministério Público disse que os 60 milhões de reais roubados pelo Maluf e agora repatriados pela Suíça poderiam ser usados para desapropriar o Parque ou na construção de creches. Use o dinheiro para as creches! E aproveite para checar se não existe necessidade de uma lá na área do Parque Augusta. Se precisar, use um tantinho da mutreta repatriada do Maluf para construir uma creche imensa por lá (mais uma fonte suplementar de financiamento). Toda alternativa é válida.

A gente não quer torres, mas não se importaria em ver crianças brincado junto de tanto verde. Mas ouse e construa uma creche 24 horas (afinal, nem toda mulher trabalha das 7h às 17h, principalmente na Augusta. E muitas deixam os filhos em casa para ganhar a vida pela madrugada).

O Baixo Augusta não é só dos seus moradores, é de todos os paulistanos e cidadãos do mundo que circulam por ali. Este será um Parque para São Paulo. E, mais do que nunca, é preciso garantir a toda a gente o direito à cidade.

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