Sociedade

Gays solicitantes de asilo enfrentam “humilhação” no Reino Unido

Documento vazado revela perguntas lascivas feitas por autoridades, contrariando as diretrizes

Imigração do Reino Unido. Ao menos um solicitante de asilo foi humilhado ao buscar ajuda de Londres
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Por Diane Taylor e Mark Townsend

Autoridades do Home Office (departamento britânico que cuida de imigração, polícia, drogas, etc.) estão sendo criticadas por usar frases de interrogatório “chocantemente degradantes” quando entrevistam solicitantes de asilo gays e lésbicas, apesar da clara orientação de que essa abordagem é inaceitável.

Um documento confidencial do Home Office que vazou para o Observer revela que um bissexual solicitante de asilo ouviu uma série de perguntas lascivas feitas por uma autoridade, como: “Você colocou seu pênis no traseiro de x?” e “Quando x o estava penetrando, você teve uma ereção? X ejaculou dentro de você? Por que você usou camisinha?”

O documento revela que durante cinco horas de interrogatório em um centro de detenção no Reino Unido o candidato a asilo também ouviu as perguntas: “O que há no traseiro dos homens que o atrai?” e “O que há no modo como os homens andam que o excita?”

As perguntas, digitadas por um funcionário do Home Office e datadas de outubro passado, foram consideradas um “interrogatório”.

O departamento admitiu no sábado passado 8 que sua equipe “não tem permissão para fazer perguntas inadequadas ou invasivas”, mas acrescentou que as tentativas de determinar a orientação sexual de um indivíduo são realizadas “da maneira mais delicada possível”.

S. Chelvan, um advogado especialista em pedidos de asilo baseados na sexualidade, disse que a entrevista, que foi conduzida sem a presença de um advogado, foi “chocantemente degradante”.

Ele acrescentou: “Estou horrorizado com a natureza das perguntas que foram salientadas. Parece mais um interrogatório que uma entrevista. É excepcionalmente perturbador que haja perguntas como se um indivíduo ejaculou e se usou camisinha. Esta é uma investigação inaceitável de um pedido de asilo gay. É claro que há algo terrivelmente errado aqui”.

O advogado da imigração Colin Yeo também manifestou preocupação: “Isto é o pior que já vi, mas esse tipo de pergunta invasiva e abusiva é característico da prática de entrevistas do Home Office, especialmente em casos que envolvem sexualidade. O problema subjacente é que as autoridades acreditam que todo mundo é mentiroso. Isto leva a uma falta de respeito fundamental pelas pessoas com quem eles tratam”.

Keith Vaz, presidente da comissão seleta de assuntos internos, disse que ficou “chocado” pelo fato de as autoridades do Home Office ainda questionarem os solicitantes de asilo de tal maneira e pediu que a prática seja interrompida.

Ativistas disseram que ela expõe a cultura da descrença nos solicitantes de asilo vulneráveis. Em 2010, um denunciante que havia trabalhado em um centro de processamento de pedidos de asilo revelou que seus colegas expressavam de maneira veemente opiniões anti-imigração e se orgulhavam de recusar os pedidos.

O grupo de direitos gays Stonewall, cujos estudos encontraram uma “homofobia sistêmica” no sistema de asilos do Reino Unido, disse que a abordagem poderia ser “profundamente perturbadora” para os que pedem asilo. Richard Lane, porta-voz da Stonewall, disse: “Tempo e recursos valiosos são gastos tentando ‘provar’ que um solicitante é gay, em vez de estabelecer se ele tem um medo legítimo de perseguição”.

Um porta-voz do Home Office disse: “O Reino Unido tem uma orgulhosa história de conceder asilo àqueles que precisam, e não deportamos ninguém que corra o risco de perseguição por causa de sua sexualidade.

“Todos os requerentes são solicitados a estabelecer que enfrentam perseguição, tratamento desumano ou degradante em seu país natal para se qualificarem à nossa proteção.”

Leia mais em Guardian.co.uk

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