Garimpeiros armados voltam a ameaçar servidores da Funai, diz Univaja

Ameaças ocorrem poucas semanas após a morte do indigenista Bruno Araújo e do jornalista britânico Dom Phillips na região do Vale do Javari

Uma das balsas de garimpeiros ilegais registradas no Vale do Javari. Homens armados estariam na embarcação. Foto: Reprodução/Univaja

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Dois garimpeiros armados ameaçaram servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) que atuam na região do Vale do Javari, local onde o indigenista Bruno Araújo e o jornalista britânico Dom Phillips foram assassinados. As ameaças ocorreram na tarde de sexta-feira 15, mas foram reveladas apenas nesta terça-feira 19 pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja).

“No dia 15 de julho, às 17 horas, dois homens armados foram à Base de Proteção Etnoambiental (BAPE) da Funai, localizada no rio Jandiatuba. Os homens armados perguntaram quantos funcionários (dentre eles, indígenas do povo Matis) estavam trabalhando naquela Base, com clara intenção de assediar os servidores”, diz o comunicado da entidade.

Segundo a Univaja, a ameaça estaria relacionada a uma fiscalização na região feita pelos servidores entre fevereiro e março, que identificou e mapeou a ação ilegal de garimpeiros. A atividade contou com a participação de Bruno Araújo. “Em relatório, a equipe registrou a presença de 19 balsas de garimpo em atividade, com movimentação logística saindo do município de São Paulo de Olivença (AM), e pontos de retirada de madeira para a construção das balsas próximos da localidade dos indígenas isolados. As pessoas que operam as balsas de garimpo no rio Jandiatuba portavam armas de fogo (calibres 16 e 12).”

Ao relatar a nova ameaça, a entidade reforça as denúncias de omissão das autoridades governamentais com os crimes praticados na região. De acordo com o relato, as coordenadas mapeadas pelo grupo de fiscalização entre fevereiro e março foram levadas naquele período às autoridades pelo indigenista Bruno de Araújo, mas ignoradas desde então, mesmo após a morte do servidor.

“Apesar das informações técnicas terem sido encaminhadas pela Funai e Univaja às autoridades, nenhuma providência foi tomada até o momento. Isso tem sido um dos questionamentos da Univaja durante as audiências realizadas pelas Comissões Externas do Senado e da Câmara dos Deputados, em Brasília, ao longo deste mês de julho”, afirma o comunicado desta terça-feira.

Para a entidade, as autoridades locais e federais têm feito ‘um jogo de empurra-empurra’ com as demandas dos indígenas e fiscalizadores da região. “Mesmo com a repercussão nacional e internacional do assassinato de Bruno e Dom, mesmo após as reuniões junto a diferentes instâncias, as autoridades brasileiras ainda não se conscientizaram de que os infratores continuam invadindo a Terra Indígena Vale do Javari. Agora, de maneira mais intensa, intimidando diretamente os servidores da Funai e as lideranças indígenas”, destaca a Univaja no texto.


O comunicado ainda reforça três demandas feitas pela entidade ao governo federal e ao governo estadual: a criação de um Plano Emergencial de Proteção para o Vale do Javari; a atuação conjunta da Polícia Federal, do Exército e do Ibama por, no mínimo, seis meses com a Funai nas bases de proteção etnoambiental da região; e a atuação da Polícia Militar Ambiental por, no mínimo, seis meses no trecho do rio Itaquaí – entre a cidade de Atalaia do Norte (AM) e a Terra Indígena Vale do Javari – para combater os crimes ambientais.

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