Sociedade

‘Foram para uma aventura. A gente lamenta pelo pior’, repete Bolsonaro sobre desaparecidos na Amazônia

O tom do ex-capitão, que sugere conformismo com a possibilidade do ‘pior’, omite aspectos relevantes do trabalho de Bruno e Dom

Jair Bolsonaro na Cúpula das Américas 2022, em Los Angeles. Foto: Jim WATSON/AFP
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O presidente Jair Bolsonaro voltou a alegar nesta quinta-feira 9 que o indigenista Bruno Araújo e o jornalista inglês Dom Phillips “foram para uma aventura” na Amazônia.

Bolsonaro tornou a se manifestar sobre o desaparecimento dos dois em Los Angeles, nos Estados Unidos, onde participa da Cúpula das Américas.

“A última informação que tive… não tenho notícia do paradeiro deles. A gente pede a Deus que sejam encontrados vivos, mas sabemos que a cada dia que passa essas chances diminuem”, afirmou o ex-capitão a jornalistas.

Ele disse que as autoridades entraram em ação logo após “o sinal de alerta” e emendou: “Naquela região, geralmente você anda escoltado. Foram para uma aventura. A gente lamenta pelo pior”.

O tom de Bolsonaro, que sugere conformismo com a possibilidade do “pior”, omite aspectos relevantes do trabalho de Bruno e Dom.

O indigenista atua há mais de onze anos no Vale do Javari, região do desaparecimento, e é uma das principais autoridades no trabalho de campo especializado em índios isolados.

Segundo a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari, Bruno Pereira deixou o cargo de Coordenador-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato da Funai após se tornar alvo de perseguição política no órgão. Desde 2019, ele trabalha diretamente com a Univaja.

Cabe ao Estado a tarefa legal de proteger as terras indígenas. Também é atribuição da Funai “proteger e promover os direitos dos povos indígenas no Brasil”. Há anos, porém, a região do Vale do Javari é palco de disputas entre facções criminosas e alvo de ações clandestinas, do garimpo à extração ilegal de madeira.

Dom Phillips, por sua vez, tem contribuições valiosas sobre a Amazônia publicadas por veículos internacionais de renome, em especial o jornal britânico The Guardian.

O jornalista, que vinha trabalhando na produção de um livro, assinou ao longo dos últimos anos uma série de matérias sobre a devastação ambiental no Brasil e violações aos direitos humanos em terras indígenas.

Nesta quinta-feira 9, o jornalista Jamil Chade, do UOL, revelou que a Organização das Nações Unidas e a Organização dos Estados Americanos já haviam alertado o governo brasileiro sobre a violência no Vale do Javari.

Entidades internacionais emitiram dois comunicados, em 2017 e em 2020, nos quais denunciavam invasões e cobravam providências do Estado.

Há cinco anos, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (ligada à OEA) e o Escritório Regional para a América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos expressaram “preocupação” quanto a um massacre de povos indígenas em isolamento voluntário, próximo aos limites da Terra Indígena Vale do Javari.

De acordo com Chade, as entidades já haviam destacado, em 2017, que o Vale do Javari tinha “a maior presença de povos indígenas isolados do mundo, o que exige esforços diligentes do Estado do Brasil para adotar políticas e medidas apropriadas para reconhecer, respeitar e proteger as terras, territórios, meio ambiente e culturas desses povos, bem como suas vidas e sua integridade individual e coletiva”.

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