Sociedade

Falta comunicação entre poderes para recuperar usuários de crack

Para pequenos municípios, dificuldade para conseguir recursos faz com que tenham até que negar tratamento para usuários

Duas décadas de repressão ao crack se mostraram um fracasso e só espalharam a droga pelo País. Agora, governos investem em combate à exclusão social como solução para o crack
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A realidade do combate ao crack é especialmente cruel para os municípios pequenos do País. Dotados de poucos recursos próprios e dependentes de repasses federais ou estaduais, eles raramente possuem meios para combater o uso e fornecer apoio aos dependentes. CartaCapital conversou com representantes de duas cidades nestas condições, uma no Vale do Ribeira, em São Paulo, e outra no interior do Mato Grosso. Ambas possuem em comum a alta incidência de crack, a inexistência de programas de combate e tratamento suficientes, um orçamento exíguo e populações inferiores a 35 mil habitantes.

O caso de município de Sete Barras, com 13 mil habitantes é sintomático. “Nosso município é essencialmente agrícola, extremamente pobre e sem muita oferta de trabalho”, diz o secretário de saúde, Odair de Lima.

Na prática, falta estrutura e comunicação entre os poderes para investir na recuperação dos pacientes. O estado do Mato Grosso, onde nenhum município aderiu ao programa Crack, É Possível Vencer é um exemplo disso. Sem a adesão do estado ao programa, os municípios são automaticamente impedidos de acessar os recursos. Com isso, municípios como Campo Novo do Parecis, com cerca de 30 mil habitantes, fazem o possível para lidar com o problema.

“O que conseguimos fazer é arcar com a internação de 27 pacientes, o que nos custa 250 mil reais por ano”, conta a secretária de saúde, Evanete de Oliveira. “Para o restante dos doentes, não temos outra opção que não negar o tratamento”, lamenta. Ela explica que a secretaria tem de pagar os custos das internações porque o principal equipamento de saúde Caps (Centro de Atenção Psicossocial), voltado para o tratamento de dependência, fica a 150 km da cidade. A grande distância impossibilita a transferência dos pacientes.

O caso de Campo Novo do Parecis é regra em estados que possuem cidades com grandes extensões territoriais, como Mato Grosso, Pará e Amazonas. Os problemas do município mato-grossense, no entanto, são agravados pela rota de tráfico entre a Bolívia e o Brasil.

“Nossa cidade não é pobre ou tem favelas”, conta Oliveira. “Carecemos de aparelhos culturais e de lazer, como todas as cidades pequenas, mas acreditamos que, no nosso caso, o principal problema é a desestruturação familiar e a rota de tráfico internacional”, completa. Este ano, a prefeitura anunciou a construção de um Caps na cidade.

Em geral, Sete Barras, em São Paulo, e Campo Novo do Parecis, no Mato Grosso, dividem os mesmos problemas: falta de estrutura familiar, poucas ofertas de trabalho e de lazer, baixo orçamento e carência de aparelhos e profissionais de saúde. Nenhum possui mais de três psicólogos para trabalhar na prevenção e no tratamento da dependência química da população.

Para cidades médias, com população superior a 200 mil habitantes, o governo federal iniciou um projeto piloto em 23 municípios para oferecer moradia provisória e trabalho para os dependentes. Nessas cidades, irá ser ampliada a rede Caps, visando construir uma rede regionalizada e estruturada de saúde.

A estratégia para cidades pequenas se dá por comunidades terapêuticas e pela transferência de dependentes para Caps e hospitais em cidades maiores, explica o secretário nacional de política sobre drogas, Vitore Maximiano. “Hoje, já temos 377 comunidades contratadas, gerando quase 8.500 vagas articuladas com outros serviços”, conta. Ao todo, a Senad gasta 100 milhões de reais/ano com as comunidades terapêuticas.

No entanto, os programas, como confirmam os casos de Sete Barras e Campo Novo do Parecis, são insuficientes. “Estamos longe do ideal”, admite Maximiano. “Até 2006, oferecíamos a cadeia como solução ao problema, e mudar essa cultura em oito anos não é algo simples.” O secretário da Senad, cujo foco é a prevenção, cita como exemplo do comprometimento do governo o aumento dos recursos da pasta. O orçamento da Senad, que em 2011 era de R$ 15 milhões, saltou para R$ 192 milhões, em 2014. Para 2015, o orçamento estimado é de 240 milhões.

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