Sociedade
Fábrica fechada da Petrobras poderia produzir 360 mil m³ de oxigênio por dia, diz FUP
Atividades da Fafen-PR foram encerradas pela Petrobras sob a alegação de prejuízos financeiros; Federação critica desindustrialização


Cerca de 360 mil metros cúbicos de oxigênio poderiam ser produzidos por dia pela Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados da Petrobras no Paraná, quantidade que encheria 30 mil cilindros hospitalares pequenos, segundo cálculo divulgado pela Federação Única dos Petroleiros nesta terça-feira 19. De acordo com a organização, a produção atenderia o pico do consumo diário de oxigênio em Manaus, que ultrapassou 70 mil metros cúbicos na última semana e acabou em uma crise por escassez.
Acontece que a fábrica foi fechada há um ano pela atual gestão da Petrobras. O estudo, divulgado pela FUP como protesto contra o encerramento das atividades da Fafen-PR, diz que há uma estrutura de separação de ar que, com uma pequena modificação, poderia ser convertida para a produção de 30 mil metros cúbicos de oxigênio hospitalar por hora. A separação de ar é um dos processos utilizados para a produção de amônia, o principal insumo produzido na fábrica.
O fechamento da Fafen-PR foi o ponto inicial da greve dos petroleiros no início de 2020. Segundo a FUP, cerca de mil trabalhadores foram demitidos sem qualquer negociação com os sindicatos envolvidos. Um acordo com a Petrobras foi obtido em setembro, que garantiu um novo acordo coletivo de trabalho para funcionários da estatal; no entanto, os trabalhadores da Fafen-PR seguem sem emprego e a fábrica permanece fechada, com equipamentos se deteriorando, diz a federação.
A Fafen-PR foi comprada pela Petrobras em 2013 da mineradora Vale. A petroleira alegou que, desde então, a fábrica apresentou recorrentes prejuízos, que teriam passado de 2 bilhões de reais. A estatal disse que se esforçou para vender a fábrica, cujo processo de desinvestimento teve início há cerca de três anos. Houve negociações com a companhia russa Acron Group, mas a venda fracassou, e a Petrobras decidiu encerrar as atividades da Fafen sob a justificativa de falta de viabilidade econômica.
Para a FUP, o fechamento da fábrica é que traz prejuízos ao País, porque agora a agroindústria fica mais dependente da importação de fertilizantes. A unidade, segundo a federação, abastecia aproximadamente 30% do mercado brasileiro de ureia e amônia, com 1975 e 1303 toneladas diárias, respectivamente. Além disso, a economia local foi afetada, especialmente nas cidades de Curitiba e Araucária.
“O fechamento de uma unidade como a nossa não significa apenas a perda de empregos e tributos. A sociedade perde tecnologia e condições de mudar o país. E, nesse caso, perde também condições de salvar vidas. A desindustrialização causa prejuízos generalizados para a sociedade”, diz o petroquímico Gerson Castellano, dirigente da FUP e um dos trabalhadores demitidos.
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