Sociedade

Exército deve desculpas à nação, diz ex-agente acusado de tortura

Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade, atual coronel que atuou na Oban negou ter torturado guerrilheiros da luta armada

Homero Machado durante depoimento à CNV. Ele diz que só cumpria ordens e que o Exército deve desculpas à nação
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Agente do complexo Oban, que mais tarde daria origem ao DOI-CODI de São Paulo, o coronel Homero Cézar Machado disse em depoimento à Comissão Nacional da Verdade que é o Exército quem deve desculpas à nação pelas torturas cometidas contra os guerrilheiros contrários ao regime militar.

Confrontado pelo advogado e membro da CNV José Carlos Dias sobre o fato de não haver até hoje um “pedido de desculpas dos agentes públicos que praticaram violações contra cidadãos” na época da ditadura civil militar (1964-1985), o atual coronel do Exército disse ser apenas um cumpridor de ordens dentro da cadeia de comando. “Eu pediria para que o senhor questionasse o comando do Exército para que ele pedisse desculpa como instituição”, disse Machado nesta segunda-feira 1º. “Porque nós éramos agentes, delegados da instituição. Ele (o comando) é quem tem de pedir desculpas à nação”, disse.

Homero, que negou ter torturado membros de grupos da luta armada de esquerda nos anos 60 e 70, disse que esses também eram “terroristas”. “Houve excesso dos dois lados, ninguém era santo ali. Aquilo era Guerra Fria, todo mundo ali tinha culpa”, afirmou. “A gente cumpria ordem, não tinha autonomia para fazer isso ou aquilo. No Exército não tem isso. A pessoa é designada. Eu, por exemplo, era do CPOR e fui designado para lá porque eu era o mais ‘moderno’ e solteiro”, disse ao lembrar que era o mais novato no ofício.

Presente ao depoimento, Derlei Catarina De Luca disse ter sido torturada pela equipe de Homero em 29 de novembro de 1969. “Ele me colocou no pau de arara, deu choque elétrico, permitiu que quebrassem meus dentes da frente com o cabo do revolver”, afirmou. Membro da Ação Popular, De Luca conta ter sido presa em São Paulo depois de ser confundida com Maria Aparecida Costa, da ALN.

Nervoso e abalado, o coronel, que à época servia como capitão, não confirmou a maior parte das denúncias que lhe foram apresentadas durante o depoimento prestado a Dias, Maria Rita Kehl e Rosa Cardoso, também membros da CNV. “Negou tudo, como um bom mentiroso. Eles são corajosos para bater em bando de pessoas presas e amarradas. Só para isso”, disse Ivan Seixas, ex-guerrilheiro torturado no DOI-CODI e colaborador da CNV.

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