Sociedade

Ativista dos direitos humanos sai do Brasil após seguidas ameaças

Além de telefonemas, ela passou a ser perseguida nas ruas e obrigada a driblar tocaias que ameaçavam até a sua família na porta de casa

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Para escapar da morte, a estudante de teologia Camila Mantovani, de 24 anos, deixou o Brasil em 29 de abril e desde então se esconde em algum país da América Central. “As ameaças se intensificaram após as audiências públicas no Superior Tribunal Federal para debater a descriminalização do aborto, em agosto de 2018, e com o início do processo eleitoral”, relatou a CartaCapital por e-mail e WhatsApp. Durante dois anos, ela recebeu intimidações pela internet. Depois, além de telefonemas, passou a ser perseguida nas ruas e obrigada a driblar tocaias que ameaçavam até a sua família na porta de casa.

A execução da vereadora Marielle Franco, em março de 2018, acendeu uma luz amarela. Optou pelo autoexílio, com o suporte do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs. Nascida em um lar evangélico na periferia de Volta Redonda, interior do Rio de Janeiro, teve toda sua formação regida pelos valores cristãos.

Jamais imaginou que, anos mais tarde, sua vida estaria em risco justamente por lutar, dentro das igrejas, em defesa da igualdade, dos direitos sociais e o combate à violência contra a mulher.

Na adolescência, Camila teve como referência ética e religiosa o pastor Silas Malafaia. “Desde criança ouvia falar dele como um ‘homem de Deus’. Mas a consciência crítica me mostrou que seu projeto é pessoal.” Por suas críticas, não tardou para atrair a ira dos reacionários. Logo que deixou o Brasil, em comunicado nas redes sociais, foi enfática em dizer que sua saída do País não significava um recuo das posições progressistas, apenas servia para “mostrar o nível de covardia da igreja hegemônica fundamentalista”. As pressões cresceram a partir de 2016, com a formação da Frente Evangélica pela Legalização do Aborto, da qual é ativa militante. “Essas lideranças não toleram a pluralidade no campo evangélico.”

Até agora, ainda não se sabe de onde partiram ou quem são os responsáveis pelas ameaças de morte contra Camila, mas as autoridades suspeitam de grupos milicianos. O processo legal está a cargo do Ministério Público do Estado e as investigações policiais, que transcorrem em sigilo, sob a responsabilidade da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância.

No Rio de Janeiro, denuncia a estudante, alguns grupos evangélicos são próximos dos milicianos. “Eles se movem por pautas morais, discursos conservadores e estão conectados com deputados estaduais e com pastores com poder de influência. A milícia controla os territórios. A igreja controla as pessoas”, revela. “Como se vê, tudo está intimamente ligado. É um casamento perfeito.”

Camila Mantovani acredita que certas lideranças evangélicas se movem com foco prioritário no poder político.

“O que pretendem é garantir uma fatia dessa torta recheada com o sacrifício dos milhões de trabalhadores desempregados”, afirma. “Para ter direito a este quinhão estão dispostos a tudo, inclusive crucifixar Jesus Cristo todos os dias na figura daqueles que padecem na miséria.”

No exterior, além de se aprofundar nos estudos teológicos, pretende criar uma rede internacional de contatos para denunciar as violações dos direitos humanos no Brasil. “É preciso criar laços de resistência com irmãos e irmãs latino-americanos.”

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