Cultura

Escolas de samba levam enredos politizados ao Anhembi

No primeiro dia de desfiles em São Paulo, Mancha Verde, Tom Maior e Barroca Zona Sul abordam racismo, escravidão e lembram Marielle Franco

Escolas de samba levam enredos politizados ao Anhembi
Escolas de samba levam enredos politizados ao Anhembi
Foliões da Tom Maior vestem camisetas com imagem de Marielle Franco. Foto: NELSON ALMEIDA / AFP
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A primeira noite de desfiles das escolas de samba do Carnaval de São Paulo foi marcado pelo tom político dos enredos de Mancha Verde, Tom Maior e Barroca Zona Sul. As agremiações levaram para avenida no Anhembi menções à vereadora Marielle Franco, assassinada há quase dois anos no Rio de Janeiro, críticas ao racismo e à escravidão, e homenagens a artistas negros brasileiros e à líder quilombola Teresa de Benguela.

A Mancha Verde, atual campeã em São Paulo, foi ao sambódromo com o enredo “Pai! Perdoai, Eles Não Sabem o que Fazem!”, no qual parte de um pano de fundo religioso para abordar temas como o racismo, violência contra mulher e poder do perdão. Parte da letra diz:

É preciso lutar, exaltando Penhas e Marias

Que clamam por direitos, igualdade

Essa é a tua vontade”

“Em nome do pai, amém

Justiça e paz, aos homens de bem

Deus não criou raça, e nos ensinou

Aos olhos não existe cor”

 

A Tom Maior relembrou a morte da vereadora Marielle Franco, cujos assassinos ainda não foram identificados. Com o enredo “É Coisa de Preto”, a escola usa a frase pejorativa para homenagear artistas e personalidades negros relevantes para o Brasil.

A agremiação deu destaque a Joaquim Barbosa, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, ao escultor Aleijadinho, ao sambista Mussum (também ex-integrante  de “Os Trapalhões”), a Wilson Simonal, Mano Brown, Dona Ivone Lara, Pelé e Daiane dos Santos.

A Tom Maior também mostrou Madame Satã, o primeiro artista travesti do Brasil, apanhando de policiais no desfile, além de uma favela em um dos carros alegóricos e um navio-negreiro como abre-alas.

Partes do enredo diz:

Brasil, não vim pra ser escravo nem servil

Sou filho dessa pátria mãe gentil

Que traz a esperança no olhar

Oh, meu país… que tanto sustentei em meus braços

Espelha tua grandeza num abraço

Revela o meu dom de encantar

Não é esmola teu reconhecimento

O meu talento é mais que samba e Carnaval

Faço da minha negritude

Um legado de atitude, inspiração pra vencer

Lutar… é preciso lutar por igualdade Liberdade… fazer da resistência uma nova verdade

A minha força pra calar o preconceito

É coisa de pele, é coisa de preto.

A Barroca Zona Sul, a primeira escola a desfilar, homenageou a líder quilombola Teresa de Benguela. O enredo “Benguela… a Barroca Clama a Ti, Tereza” narra a trajetória da angolana que comandou o Quilombo do Quariterê, que existiu no Mato Grosso entre 1730 e 1795. 

O enredo da escola criticou a escravidão e a cultura escravagista base da formação do país:

A coragem vem da alma de quem ergueu o parlamento
Do castigo na senzala à miséria da favela
O povo não se cala, oh
Tereza de Benguela
Vem plantar a paz por essa terra
A emoção que se liberta
E a pele negra faz a gente refletir
Nossa força, nossa luta
De tantas Terezas por aí

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