Sociedade

Em três semanas, São Paulo tem oito ataques a religiões de matriz africana

Ataques, que são mais comuns no Rio de Janeiro, têm ocorrido em São Paulo com alto grau de violência

Em 25 de janeiro, Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, ato ecumênico reuniu religiosos no Rio de Janeiro em protesto contra ataques
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O estado do Rio de Janeiro contabiliza pelo menos 79 ataques a templos e seguidores de religiões de matriz africana, 39 apenas nos últimos três meses. Agora, a intolerância religiosa parece ter cruzado a divisa. O estado de São Paulo já registrou 27 atos de violência neste ano, oito nas últimas três semanas.

A Polícia Civil e o Ministério Público do estado investigam o mais recente: um incêndio que destruiu totalmente uma casa de Candomblé, na semana passada, em Jundiaí, no interior de São Paulo. Ninguém ficou ferido, pois o fogo atingiu o local tarde na noite, quando não havia frequentadores no centro. Vizinhos viram duas pessoas saindo correndo depois que as chamas começaram.

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A estrutura da casa, que era feita de madeira, foi consumida pelo fogo. O telhado ficou destruído, assim como instrumentos musicais e quadros. As causas serão apuradas pela Polícia Civil, enquanto o Ministério Público e a Procuradoria Geral do Estado querem descobrir se o crime foi provocado por intolerância religiosa. Também na semana passada dois terreiros foram depredados em Carapicuíba, na grande São Paulo.

A hostilidade, porém, não é novidade. O que assusta os religiosos é a gravidade dos eventos. O babalorixá Diego Montone, criador do Movimento Nacional Brasil Contra a Intolerância Religiosa, lembra de um caso recente, em Franco da Rocha, também na grande São Paulo, em que um indivíduo invadiu o templo, num momento de culto, e esfaqueou quatro pessoas, inclusive uma menor de idade.

Montone conta que o movimento foi criado há cerca de um mês, já como uma resposta a essa nova onda de ataques. “É importante se dizer que esses ataques sempre existiram. O que tem se tornado comum são as denúncias. Nós éramos atacados anteriormente e ficávamos calados”, afirma. “Também é reflexo do aumento do conservadorismo, que traz intolerância. Aumentou a intolerância, pois os casos têm se tornado mais graves”, considera.

O promotor que cuida do caso, Alfonso Presti, declarou ao SBT Brasil que assusta o fato dos ataques serem feitos de maneira que não seja possível que os responsáveis sejam identificados. “Se percebe uma organização. É o mesmo padrão que se viu no Rio de Janeiro”, afirma.

Mesmo que responsáveis sejam identificados, o crime de intolerância religiosa não é tipificado, então não há punição prevista para esse tipo de ataque. Diego Montone lembra também que há dificuldade para o registro do boletim de ocorrência. “Quando é eletrônico, é indeferido. Quando não é eletrônico, a vítima vai até a delegacia, fica horas para prestar o depoimento e muitas vezes é desencorajada pelo delegado. Muitas vezes é vítima de intolerância novamente“, afirma. 

Por não ser tipificado, para o início das investigações o ato de violência precisa ser descrito como outro crime, como perseguição, ameaça, injúria ou racismo. “Se não encaixar em nada, não há crime e o delegado vai incentivar a não registrar a denúncia”, finaliza.

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