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Em tom lamentoso, petroleiros decidem aceitar demissões da Petrobras

Em nota, Federação Única dos Petroleiros disse que fechamento de fábrica é ‘triste capítulo da desindustrialização do país’

Em tom lamentoso, petroleiros decidem aceitar demissões da Petrobras
Em tom lamentoso, petroleiros decidem aceitar demissões da Petrobras
Petroleiros acusam governo do presidente Jair Bolsonaro de desmantelar o Sistema Petrobras. Foto: FUP
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Os trabalhadores da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen), subsidiária da Petrobras na cidade de Araucária (PR), anunciaram que aceitarão o pacote de benefícios imposta pela gestão da estatal e pelo ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST) Ives Gandra. A decisão foi tomada após assembleia geral do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Petroquímicas do Estado do Paraná (Sindiquímica-PR).

Na prática, a fábrica será fechada e os funcionários serão dispensados, com alguns benefícios garantidos pela petroleira. Em fevereiro, a Petrobras afirmou que o pacote foi oferecido a 396 funcionários e inclui verbas rescisórias legais, manutenção por 24 meses de plano médico e odontológico, benefício farmácia e auxílio educacional, além de uma assessoria especializada em recolocação profissional.

Apesar de aceitarem o pacote, os petroleiros lamentaram a decisão que tomaram, pois não havia margem para outras negociações. Em todo o período de greve, os trabalhadores queriam evitar o fechamento da fábrica e impedir a demissão em massa.

“Este foi mais um triste capítulo da política de desindustrialização do país e de desmantelamento do Sistema Petrobras por parte do governo Bolsonaro”, afirmou a Federação Única dos Petroleiros (FUP), em nota.

Para o dirigente jurídico do sindicato, Reginaldo Lopes, a votação foi dividida e trabalhadores “foram às lágrimas com a situação de desemprego”.

“Infelizmente, esta foi uma assembleia muito triste para nossa categoria e muito triste para os petroquímicos. Não foi uma decisão que expressou vontade da maioria da categoria. Viemos com proposta pronta do TST e não foi sob crivo da negociação, foi sob crivo da ameaça. Nosso próximo passo é orientar os trabalhadores e também cobrar da empresa aquelas propostas de auxiliar na recolocação dos trabalhadores que haviam prometido”, declarou.

O movimento grevista durou quase três semanas, com início em 1º de fevereiro, e envolveu 21 mil trabalhadores e 121 unidades do Sistema Petrobras. Num cenário de privatizações, a atual gestão da Petrobras está se desfazendo da Araucária Nitrogenados S.A. (Ansa), que os petroleiros chamam pelo nome antigo, Fafen.

A Petrobras comprou a Fafen em 2013, da mineradora Vale. A estatal alega que, desde então, a fábrica apresenta recorrentes prejuízos que já somam mais de 2 bilhões de reais. Para o fim de 2020, o resultado negativo poderia superar 400 milhões de reais, segundo a empresa.

A petrolífera, então, diz que esforçou-se para vender a fábrica, cujo processo de desinvestimento teve início há mais de dois anos. As negociações haviam avançado com a companhia russa Acron Group, mas a venda não foi efetivada. Agora, a Petrobras encerra as atividades da fábrica com a justificativa de falta de viabilidade econômica.

Mas a FUP rebate o argumento de que a Fafen dá prejuízos. Segundo a Federação, o fechamento da fábrica dará prejuízo maior, porque o Brasil terá de importar 100% dos fertilizantes nitrogenados que consome. Além disso, diz a FUP, o Brasil ficará dependente de um reagente químico produzido na fábrica, usado para reduzir a poluição ambiental produzida por veículos automotores pesados que usam diesel.

A organização sustenta ainda que o município de Araucária deve perder 75 milhões de reais em arrecadação. Além disso, os petroleiros dizem que a justificativa de prejuízo é falsa, porque a própria Petrobras produz e precifica a matéria-prima para gerar ureia e amônia na fábrica. A ureia e a amônia são compostos utilizados para a produção de fertilizantes nitrogenados.

Dessa forma, a Petrobras, na verdade, criaria um pretexto para abandonar o setor de fertilizantes nitrogenados no Brasil, favorecendo multinacionais e importadores.

A Petrobras está na mira da campanha privatizante da equipe econômica do presidente Jair Bolsonaro. Após a criação da Secretaria Especial de Desestatização, em 2019, o governo já vendeu a BR Distribuidora, a distribuidora Liquigás e a Transportadora Associada de Gás (TAG) – as três eram subsidiárias da Petrobras.

Também viraram alvo de Bolsonaro as companhias Correios, Telebras, Eletrobras, Casa da Moeda, entre outras empresas. Em agosto de 2019, o governo divulgou uma lista com 17 estatais federais que podem parar nas mãos do setor privado.

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