Sociedade
Em Aracaju, aluno vai a festa de Halloween fantasiado de Hitler e faz gesto nazista
A instituição de ensino já esteve envolvida em outra polêmica em 2021, após exaltar, em outdoors, a aprovação de alunos não-cotistas


Um aluno de uma escola particular localizada em Aracaju, capital de Sergipe, se fantasiou do ditador alemão Adolf Hitler e fez gestos nazistas durante uma festa de Halloween nesta sexta-feira 28. Nas imagens que circularam nas redes sociais, é possível ver o garoto com um símbolo ligado ao Nazismo no braço e fazendo a saudação praticada por apoiadores de Hitler.
CartaCapital apurou com pessoas do Colégio Amadeus que o estudante teria se caracterizado dentro da escola. Assim que a coordenação pedagógica teve ciência do fato, contatou os pais e o mandou para a casa. Quando perguntado sobre a atitude, o aluno disse que “estava fazendo uma homenagem ao Chaplin”. O símbolo que o garoto tem no braço não é a conhecida suástica nazista, mas a Cruz de Ferro, que teve seu significado alterado por Hitler em 1939.
No Brasil, quem faz gestos nazistas pode ser preso por crime de racismo e cumprir pena de detenção.
A instituição de ensino já esteve envolvida em outra polêmica em 2021, após exaltar, em outdoors, a aprovação de alunos não-cotistas na Universidade Federal de Sergipe (UFS) em detrimento dos estudantes que ingressaram através do mecanismo. À época, a escola disse se tratar de um “equívoco”, pediu desculpas “aos ofendidos” e assumiu o compromisso para que “erros desta natureza não sejam mais reproduzidos”.
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Segurança Pública disse que se manifestaria posteriormente. O Departamento de Atendimento a Grupos Vulneráveis (DAGV), apurou CartaCapital, instaurou um inquérito para apurar o caso. A Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente da OAB-SE não retornou os contatos da reportagem.
Em nota, a direção do Colégio Amadeus repudiou o ocorrido, afirmou que o episódio “contrasta com toda a orientação que desenvolvemos com os estudantes na defesa inegociável dos direitos humanos” e declarou que “as medidas cabíveis já foram adotadas”.
Ontem, uma criança também foi fantasiada de Hitler a uma festa de Halloween realizada por um colégio particular em Presidente Prudentes, em São Paulo. O Ministério Público de SP abriu um procedimento para apurar o caso.
Para o advogado Ariel de Castro Alves, que é membro do Instituto Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente e presidente da Comissão de Convivência Familiar de Crianças e Adolescentes da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo (OAB-SE), o caso configura dois crimes previsto no ECA e os pais, além da escola, devem responder por infrações à lei.
“A Constituição Federal e o ECA tratam do direito ao respeito e a dignidade. Quem orientou a criança a se vestir de Hitler, gerando apologia ao nazismo, também promove violações ao ECA. Certamente a criança não sabia que se vestir de Hitler e usar símbolos nazistas é crime, mas os adultos deveriam saber”, disse em contato com CartaCapital.
“Além disso, a escola pode responder um procedimento na Promotoria da Infância e Juventude e terá de realizar um trabalho pedagógico de esclarecimento dos alunos sobre os horrores do Nazismo para reparar os danos”, completou.
A Sociedade Israelita do Estado de Sergipe disse ter visto com “perplexidade” o episódio. “Causa-nos perplexidade que os pais da criança tenham elaborado tão horrenda fantasia e enviado seu próprio filho para emular um dos maiores genocidas da História da Humanidade, ao invés de ensiná-lo acerca do Holocausto de 6 milhões de judeus (1,5 milhões de crianças) sob o governo totalitário do partido nacional-socialista alemão, a fim de que aprendam desde cedo a sentir repulsa pelo nazismo e seus símbolos, respeito pela vida humana e empatia pela dor alheia”, declarou à reportagem.
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