Sociedade

“É um balão de ensaio”, diz grevista sobre fechamento de fábrica da Petrobras

Fechamento de fábrica de fertilizantes – com a demissão de 1000 pessoas – é um prelúdio do que virá para estatais brasileiras, diz grevista

(Foto: Federação Única dos Petroleiros)
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A greve dos petroleiros da Petrobras, que começou no sábado 1 com a adesão de mais sete mil trabalhadores, já acumula mais de 17 mil aderidos e cerca de 30 unidades da estatal paralisadas, estima a Federação Única dos Petroleiros (FUP).

Motivados pela demissão de 1000 funcionários da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR), anunciada em janeiro, os petroleiros afirmam que a reformulação é um “balão de ensaio” para abrir caminhos a mais projetos de privatização de empresas públicas no País – o que explicaria a grande adesão à greve, pensada em uma resposta às intenções do setor econômico.

De acordo com a FUP, não houve diálogo com o sindicato para negociar a realocação dos funcionários da Fafen-PR, algo previsto no acordo coletivo dos trabalhadores com a Petrobras. A Fafen faz parte da estatal e é responsável pela fabricação de amônia e fertilizantes nitrogenados a partir de gás natural.

Nesta terça-feira 4, o Tribunal Superior do Trabalho acatou um pedido da Petrobras e determinou que ao menos 90% do expediente de trabalhadores volte ao serviço. A FUP, até o fechamento desta reportagem, afirmou que não havia sido notificada, e que, até o momento, os trabalhadores estavam decididos a manter a paralisação até a reversão das demissões no Paraná.

 

“A cláusula 26 do acordo coletivo garante que, nesses casos de reestruturações e vendas, os empregados sejam transferidos para outras unidades do sistema Petrobras – e que, para isso acontecer, é necessária uma negociação entre a empresa e os sindicatos. Isso não aconteceu em nenhum momento”, afirmou Devyd Barcelar, diretor de assuntos institucionais e jurídicos da FUP.

A empresa nega e diz que as medidas tomadas, como as greves e a ocupação de uma sala de reuniões na sede da estatal no Rio de Janeiro, são “descabidas” porque “todos os compromissos firmados na negociação do Acordo Coletivo de Trabalho vigente vêm sendo integralmente cumpridos”. Também afirma que, apesar da greve, a produção e processamento de petróleo e gás estão normalizados.

Barcelar aponta uma série de mudanças na gestão de pessoas da Petrobras que, para a categoria, representam um processo de precarização tomado a partir de 2016 – marcado pela gestão de Pedro Parente no governo Temer e o aceleramento dos processos de desinvestimento da empresa.

“Houve mudanças nos horários de trabalho, redução da jornada com redução do salário, e outros aspectos que levaram a um desgaste físico das pessoas em áreas operacionais terrestres”, aponta o diretor da FUP.

Tanto as paralisações – espalhadas por 12 estados até o momento – quanto a ocupação no Rio de Janeiro foram alvo de ações judiciais da Petrobras para a normalização da situação.

No sábado, a Justiça do Trabalho do Rio de janeiro negou liminar à Petrobras, que pretendia expulsar um grupo de grevistas que querem a negociação dos termos com os dirigentes de recursos humanos da empresa. Barcelar aponta que a estatal cortou o acesso à água e a energia elétrica do lugar onde estão os dirigentes da FUP, medida posteriormente revogada por uma nova liminar de uma juíza carioca.

Para Devyd Barcelar, a categoria se mobiliza além do caso da Fafen. Para ele, a greve dos servidores do Dataprev e a mobilização dos funcionários do Correios, prevista para o dia 12 de fevereiro, é um movimento antagônico aos planos dos setores econômicos às empresas brasileiras.

“A categoria compreendeu que esse é um balão de ensaio, um protótipo que eles querem executar na Faprem para ser aplicado em outras unidades operacionais da Petrobras e até mesmo em outras empresas públicas e estatais. Esse alerta foi dado também para os servidores do Dataprev, da Casa da Moeda e dos Correios – que entrarão em greve no dia 12 de fevereiro. Não restava outra alternativa”, diz Barcelar.

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