Sociedade

Dúvidas e esperança

O ano começa com perspectivas nada alentadoras para boa parte dos clubes brasileiros

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Por Afonsinho

O esporte será melhor no próximo ano? “Devia ser bem melhor e será”, diz a canção. Eco das festas de fim de ano, penso que não. “Eu já escuto os seus sinais.” O Corinthians foi o grande vencedor do ano que passou, mas o derrotado Chelsea pode ter uma semente de esperança. Auspicioso que um time inglês construa seu elenco com jogadores escolhidos não pela força física, e sim pelo talento em primeiro lugar. Não me espantaria se contratasse o espanhol Guardiola ou algum semelhante. Seria o melhor voto de Feliz Ano-­Novo, ­ainda que seja um time com “dono”.

 

 

A Alemanha já fez essa opção, a Argentina toma seu rumo e a Holanda se define. Poderemos ter uma Copa com a cara do Brasil. Por incrível que pareça, falta mesmo o anfitrião. No futebol caboclo, sopra boa brisa que vai virando vento forte, ainda que no ritmo doméstico. Lento e gradual como foram a escravidão e outros processos. A continuação é progressiva.

O Flamengo anuncia reformulação geral e já foi incluído por uma patrocinadora no grupo de elite do futebol mundial. Hora de arregaçar as mangas e arrumar a casa. Faça-se justiça com a mandatária que sai. Tentou, mas acabou tolhida pelo emaranhado das dívidas e pela política rubro-negra.

Os funcionários (jogadores, inclusive) não deixaram de registrar que saíram de férias no fim de ano com meses de atraso nos salários. A saída do Zinho não ajuda. Entrou na barca furada e saiu-se bem numa função estratégica do profissionalismo atual. Deram-lhe um cargo e uma função enganosos. Tornou-se difícil aceitar perder prestígio, embora sua atuação devesse ser técnica e não administrativa. Declarou “papel figurativo de gerente”.

Por que desperdiçar a vivência e o comedimento tão necessários à ligação entre jogadores, direção e mídia? Coordenação. Clube que tem departamento de futebol profissional, se o time não ganha, vai mal o chamado carro-chefe.


Vários exemplos por aí. Preferiram sair do profissionalismo, elitizaram-se. Muitos desapareceram. Tempo também de reparar a injustiça com Andrade, fundamental no último título brasileiro, num Flamengo estraçalhado, ainda levantando o Adriano repatriado em péssimas condições.

Passei por situação semelhante à do Zinho na base do Botafogo. Nunca tive interesse em saber quantas meias estavam furadas ou quantos sacos de batata faltavam na cozinha. Futebol que é bom… Soube também, há poucos dias, que o capitão Torres é embaixador do mesmo Botafogo e não tem função técnica no clube.

O outro clube com dirigente de perfil político ex-atleta, o Vasco da Gama, passa por vicissitudes sérias, mas acredito em sua grandeza. Dos times em que joguei foi o maior em termos de clube. Teve o maior estádio do País durante muito tempo, sendo palco das maiores manifestações de massa à sua época. Era particular. Em São Paulo, havia o Pacaembu, público.

Exatamente por serem políticos de profissão, têm características de superar crises com negociações. Roberto Dinamite tem uma potência nas mãos e pode reverter a situação. Na última semana do ano passado, a coluna de reminiscências estampou um quadro de 50 anos atrás: “Vasco vai iniciar 63 com cinto apertado”. Anuncia-se em São Januário plano de reestruturação de longo prazo. Aí mora a questão. Modernizar não basta.

É necessário mudar a maneira de funcionar da política de clubes, federações, confederações, sindicatos etc. Os clubes menores sempre foram os celeiros que permitiram a grandeza do futebol brasileiro. Vão ficando pelo caminho nessa megalomania doente. Só sobrevive quem recebe da televisão.

Os médios e “pequenos” (muitos com história riquíssima) estão sem saída. Não têm nem calendário. Por que não pensar em outras formas de organização descentralizadas? Vinculadas ao sistema Fifa ou não, com maior independência. Uma discussão.

Passou o tempo de fingir que se nada em mina de ouro. Durante anos sustentaram a alegação de que com o “passe livre” os clubes não se interessariam por trabalhar as suas divisões de base. Espertalhões deitando e rolando. É a era dos “empresários”.

Milhões voando pra cima e pra baixo nos noticiários esportivos. Os clubes se endividando. Salários sem controle e não sendo honrados. A Seleção sem time. Fim de linha.


O Santos demonstrou coragem ao manter Neymar, mesmo ficando com elenco debilitado pela dependência do s­uperstar. Orçamento apertado. ­Trazendo o Montillo, compensariam a falta do Ganso. Os “peixeiros” têm prática de lidar com isso. ­Seguraram o rei até o fim.

Para abrir o ano, sinuca argentina. Maradona ou Messi?

P.S.: Sensação de felicidade com a escolha de Alexandra Nascimento como a melhor jogadora de handebol do mundo. Vive em Mölling, na Áustria, e é tricampeã dos Jogos Pan-Americanos. Destampa-se uma panela de pressão? O Brasil vai tornar-se um expoente olímpico em 2016.

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