Sociedade

Dois pesos

Na China só entra quem eles querem. Nos EUA também. Lá você só entra se não tiver sobrenome árabe

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Um jornalista chinês, difícil repetir o nome, foi condenado a três anos de reclusão por trabalhar para o New York Times e ter fornecido notícia sobre uma autoridade chinesa. O governo de Pequim alegou falsidade na notícia. Depois de mostrar uma página do jornal nova-iorquino, com fotografia do indigitado chinês, depois de ter mostrado uma avenida e um templo pequinês, a câmera fecha em uma jornalista que no discurso final afirma que o desenvolvimento econômico na China não segue o mesmo rumo dos direitos humanos. 

No mesmo noticiário, interessante, noticia-se que um cidadão norte-americano foi preso porque oferecia um pacote em que, como item chamativo, vendia a possibilidade de acesso a um canal do Hezbollah. E nós aqui nem sabíamos que o Hezbollah tinha canal, não é mesmo? Mas o cidadão foi realmente preso. 

A China é um país demoníaco, onde não se entra assim, sem mais aquela. Na China só entra quem eles querem e existe um controle de ferro sobre as pessoas que visitam o país. O presidente chinês andou viajando aqui pelo Brasil e disse querer incrementar o turismo entre os dois países. Estou pagando pra ver. 

Nos Estados Unidos também. Lá você só entra se não fizer parte de uma lista existente em todos os aeroportos e se não tiver sobrenome de origem árabe. Alguém aí se lembra do caso do Charlie Chaplin? Ele não podia entrar por ser considerado uma ameaça ao país.  

Como não entendo de política, fui perguntar a meu compadre Adamastor por que os dois eram tão parecidos, coisa que ele negou. 

Na China, ele disse, não se pode entrar para não ameaçar a ditadura. Nos Estados Unidos, não se pode entrar para não ameaçar a democracia. 

Entendeu? ele me perguntou. Não, não entendi. Ou seja, fiquei com a impressão de que tudo anda ameaçado. E isso, sem botar terroristas no meio.  

Mas como eu tivesse afirmado que não havia entendido, o Adamastor mudou a explicação. É assim, ó: na China, você não pode casar com quem você quiser. Eles não deixam. Certo? Certo. Sem muitas informações  sobre o assunto, achei melhor concordar. 

E daí?

Nos Estados Unidos, você pode casar com quem quiser, contanto que seja com a Maria. Entendeu?

Ah, sim, agora entendi.  

Qualquer jornalista, mesmo aqui no Brasil, sabe muito bem que pode publicar em seu jornal tudo que quiser mesmo que seja contra o patrão, porque a imprensa é neutra e, melhor que isso, ela é livre.

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