Em grupos de ajuda de 12 passos, um dos primeiros ensinamentos passados aos novatos é que o alcoolismo é uma doença incurável, progressiva e potencialmente fatal, que, se não for controlada a tempo, pode levar o dependente à demência ou à morte. A assertiva pode parecer um tanto fatalista, mas o melhor protocolo de tratamento disponível no Brasil, baseado no uso de ansiolíticos e antidepressivos e combinado com psicoterapia, promete apenas auxiliar o alcoólatra a se manter mais tempo longe do copo, uma vez que recaídas ou “lapsos” parecem ser inevitáveis para a ampla parcela dos pacientes. Há estudos promissores, sobretudo no exterior, envolvendo o uso de microdoses de cetamina, potente analgésico de uso veterinário, ou de psilocibina, substância extraída dos famosos cogumelos mágicos. Ainda assim, espera-se que essas drogas contribuam para prolongar o período de abstinência. Nenhum dos pesquisadores ousa falar em cura para a moléstia.
A comunidade científica internacional talvez esteja defasada, alheia aos notáveis avanços obtidos pelo curandeirismo nativo. Há anos, em seu programa televisivo na Rede Vida, o padre sertanejo Alessandro Campos anuncia um produto milagroso, 100% natural, que “vai acabar definitivamente com o seu problema de alcoolismo”, garante. Bastam dez gotinhas do Tad Control, duas vezes ao dia, para livrar qualquer pessoa do vício, até mesmo aqueles que resistem em aceitar o tratamento. Incolor, insípido e inodoro, o líquido pode ser diluído até na bebida alcoólica. Assim, o alcoólatra relutante “nem vai perceber que está sendo tratado”, acrescenta o promotor de vendas ao lado do sacerdote de chapelão branco, sua marca registrada nos shows que faz pelo Brasil afora – além do trabalho à Santa Sé, Alessandro Campos é um famoso cantor, com milhões de álbuns vendidos.
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