Sociedade

“Comunista tem que morrer”. Ato contra imigrantes termina em violência

Em São Paulo, briga entre extremistas de direita e movimento pró-imigração termina com feridos e detidos

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“Comunista tem que morrer”, gritou um ativista do “Direita São Paulo” na noite de terça-feira 2, na Avenida Paulista, centro de São Paulo, durante uma briga que envolveu seus colegas de movimento, policiais militares e integrantes de movimentos pró-imigração. A frase foi capturada em um vídeo divulgado pelo próprio Direita São Paulo no Facebook que mostra trechos do confronto e também a ação da Polícia Militar.

Há informações conflitantes sobre o ocorrido. Certo é que na noite de terça o Direita São Paulo, um grupo que busca “restaurar todos os valores que a esquerda destruiu ao longo dos anos” e apoia o extremista Jair Bolsonaro, deputado federal pelo PSC-RJ, se reuniu na Avenida Paulista para protestar contra a nova Lei de Migração

Proposta pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), hoje ministro das Relações Exteriores de Michel Temer, o texto é visto com o único avanço na pauta de direitos humanos desde que Temer assumiu o Palácio do Planalto. Aprovada pelo Senado em 18 de abril, a legislação ainda precisa da sanção de Temer.

Em vídeo postado no Facebook, um líder do Direita São Paulo identificado como Edson diz que a lei “vai escancarar as fronteiras brasileiras para qualquer tipo de criminoso, de terrorista”. Sua agressividade é direcionada em específico aos muçulmanos. “Com eles não existe diálogo, não existe democracia. Eles querem impor a cultura deles. Eles querem impor a sharia deles. Eles vão querer subjugar o povo brasileiro abaixo dessa religião que de paz, não há nenhuma paz. Eles são do ódio, do terrorismo e vão querer tomar o Brasil”.

Em um vídeo obtido por CartaCapital, é possível ver o início da manifestação. Integrantes do Direita São Paulo, um deles com uma camiseta com a inscrição “Intervenção Militar Já”, gritam “Sem terrorismo, na minha nação, eu digo não à Lei de Migração” e “Abaixo, abaixo a Lei de Migração, eu quero meu país longe da islamização”. Nos cartazes, estavam dizeres como “Aloysio Nunes traidor da pátria” e “Soberania ameaçada por Temer”. 

Fato também é que foram presos o palestino Hasan Zarif, dono do restaurante Al Janiah, e o sírio Nur, seu funcionário. Localizado na Bela Vista, centro de São Paulo, o Al Janiah se tornou um ponto de encontro de refugiados e simpatizantes. Além deles, mais quatro pessoas foram detidas, sendo que duas foram liberadas. Ao menos três desse grupo eram manifestantes anti-fascistas, segundo Antonio Martins, do site Outras Palavras, parceiro de CartaCapital, que esteve no 78º Distrito Policial, nos Jardins, para onde os detidos foram levados.

Como a briga teve início ainda é motivo de disputa. Segundo as primeiras informações, os grupos contra e a favor a Lei de Migração se encontraram perto do escritório da Presidência da República em São Paulo, que fica na Avenida Paulista. Pelo Facebook, o Direita São Paulo acusou Zarif de ser um “terrorista” e de jogar uma “granada caseira” contra seus integrantes. Um vídeos divulgado pelo grupo direitista mostra um homem, aparentemente de fora da marcha, acendendo uma espécie de explosivo e jogando contra os manifestantes.

O Direita São Paulo também acusa de agressão o grupo favorável à lei. “Essas pessoas de ultra-direita estão acusando Hasan e outros de agressão, o que pelo que conhecemos de Hassan, Nur e outras pessoas é uma completa mentira”, disse Antonio Martins.

No vídeo divulgado pelo Direita São Paulo há cenas da confusão na Paulista. Aparentemente, os policiais atuaram contra os manifestantes pró-imigração. “Isso!”, grita o responsável pelo vídeo. Na sequência, enquanto os PMs agem, integrantes do Direita Brasil pulam e cantam “Viva a PM! Viva a PM”. É possível ver integrantes do Direita Brasil agredindo pessoas.

Em certo momento, o homem com a camiseta “Intervenção Militar Já”, o mesmo visto no início do protesto do Direita Brasil, chuta um rapaz que está no chão, dominado por outros manifestantes. Percebendo a hostilidade diante da pessoa que está no chão e dominada, uma pessoa que aparentemente é o próprio autor do vídeo do Direita Brasil apelas aos colegas: “Para, para, deixa, não bate, não bate”. O apelo não é atendido e é possível ver as agressões. 

No momento seguinte, outro manifestante pró-imigração é cercado e agredido. “Meu Deus do céu, o que eu vou fazer”, diz o autor do vídeo. “Deixa a PM [agir]”. Neste momento um homem grita “Comunista tem que morrer”. Na sequência, um militante do Direita São Paulo surge no vídeo, com o nariz ensanguentado. “Fui agredido numa manifestação pacífica”, afirma ele. “Eles bateram em mulher, esses ratos batem em mulher”, diz outro.

Na tarde desta quarta-feira 3, todos os quatro detidos foram soltos e nenhum foi indiciado, mas poderão ser investigados caso o Ministério Público julgue necessário. Dois deles vão cumprir medida cautelar, o que inclui ter que se apresentar à Justiça e não participar de manifestações.

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