Sociedade

Como São Paulo está promovendo a mobilidade ativa

Com a implantação de ciclovias, redução de velocidade e ruas abertas, começamos finalmente a vislumbrar uma cidade mais humana

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Nos últimos anos, São Paulo está passando por uma importante transformação: a criação de condições para promover a mobilidade ativa. Como o mais populoso município brasileiro é naturalmente laboratório e exemplo de uma nova agenda de desenvolvimento local, o interesse sobre o fato vai muito além do direito de seus 12 milhões de habitantes a uma vida digna. O mesmo vale para a responsabilidade de enfrentar esse desafio.

Depois de muitas promessas e avanços legislativos, começamos a caminhar em direção a uma cidade amiga das pessoas. Neste contexto, vemos o crescimento de organizações de ciclistas e pedestres que lutam por melhores condições para o transporte ativo na metrópole. Esses movimentos constroem inteligência e ações com o poder público e se fortalecem junto com as mudanças que dizem respeito ao uso do espaço público.

A lógica é simples: quanto mais gente usando as ruas, mais seguro é para todos e mais as pessoas ocupam os espaços. Mas, apesar do crescimento mais do que expressivo de tais opções nos deslocamentos diários, muito ainda precisa ser feito para consolidar essa cultura.

Vivemos ainda sob a lógica do carro como o único meio legítimo de ir e vir. Cerca de 80% do espaço do viário é ocupado por carros com apenas o motorista dentro, o que representa perto de 30% dos deslocamentos, ou seja, das pessoas transportadas.

O dado mostra o quanto o transporte individual motorizado reforça a desigualdade social e espacial vigente. E implica uma série de problemas mais do que conhecidos. O mais óbvio deles, as intermináveis filas de congestionamento, incomoda e atrapalha a vida até dos mais ferrenhos defensores da “carrocracia”.

Mas o quadro não se resume a isso. A extensa bagagem de problemas inclui um alto número de acidentes de trânsito com vítimas fatais e feridas com gravidade. Passamos da hora de repensar e superar esse modelo, e é isso que tem sido feito.

Levando-se em conta que a população brasileira está envelhecendo e que boa parte dos moradores de sua mais populosa urbe está disposta a trocar de modal – desde que sejam feitos investimentos em infraestrutura e segurança –, fica claro que a prioridade absoluta dos futuros governantes deve ser sempre as pessoas, em detrimento de qualquer máquina e meio não ativo de deslocamento.

Com a implantação de ciclovias, projetos para reforma de calçadas, redução de velocidade e ruas abertas, começamos finalmente a vislumbrar uma cidade mais humana. Como há muito não se via, paulistanas e paulistanos circulam e interagem, ocupando – e colorindo – um mapa que é seu por direito.

A diversidade e a quantidade de pessoas e manifestações culturais que vemos nesses espaços, especialmente aos domingos, mostra que, criando as condições, os moradores e até os turistas comparecem. Além disso, colégios da região central têm incentivado que os alunos caminhem para ir e voltar das aulas, prática que ocorre há muito tempo, por necessidade financeira, nas periferias.

Esta mudança de paradigmas recebe os questionamentos mais raivosos daqueles que insistem em manter seus privilégios em detrimento do direito de todos e todas. Agressividade que não raro se materializa em atitudes violentas, colocando vidas em risco.

Idosos e pessoas com mobilidade reduzida, que demoram um pouco mais para cruzar as ruas com semáforos que abrem e fecham na velocidade dos automóveis, e ciclistas atropelados por motoristas e motoqueiros apressados são as maiores vítimas dessa recusa em olhar para o outro e para a cidade com mais humanismo.

Romper com a “normalidade” dessas tragédias está entre os objetivos do Plano Diretor Estratégico (PDE), que visa a uma metrópole mais sustentável, equilibrada e viva, oposta ao modelo de “desenvolvimento” que atravessou o século passado. A lei, da qual fui relator, foi aprovada pela Câmara Municipal e sancionada pelo prefeito Fernando Haddad há dois anos. É apontada pela ONU-Habitat como exemplar para as cidades em desenvolvimento.

O estímulo a esses modais de transporte e sua integração aos demais, em especial os de caráter coletivo – bem como ao pulso cultural e social da vida urbana –, tem prioridade no Plano. Trata-se, afinal, de maneiras de se deslocar favoráveis à interação social, ao comércio, a uma relação melhor com o próprio corpo e à redução das emissões que agravam as mudanças climáticas.

A cada vez que der a partida, olhar pelo retrovisor ou pela janela, lembre-se: pedestres e ciclistas têm tudo a ver com a construção de uma vida urbana mais saudável, democrática, criativa e dinâmica.

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