Sociedade
Com pauta sobre a Amazônia, papa Francisco recebe o cacique Raoni
Viagem do líder indígena aconteceu em meio a tensões com Bolsonaro, que tem se mostrado favorável à exploração de áreas protegidas
O papa Francisco recebeu nesta segunda-feira 27, no Vaticano, o cacique Raoni Metuktire, líder da etnia indígena caiapó no Brasil e um importante aliado na defesa da Amazônia, um dos grandes desafios do primeiro pontífice latino-americano. O indígena brasileiro iniciou em 13 de maio uma excursão de três semanas pela Europa, onde foi recebido por chefes de Estado, encontrou personalidades em Cannes e marchou com jovens a favor do clima. Ele agora se reúne com o papa.
“Com este encontro, Francisco quer reiterar sua atenção pela população e pelo meio ambiente da região amazônica e seu compromisso com a proteção da Casa Comum [como ele se refere ao planeta Terra]”, explicou no domingo 26 o porta-voz do papa, Alessandro Gisotti. Depois de passar por Paris, Bruxelas e Luxemburgo e Cannes, a campanha europeia pela Amazônia de Raoni terminou no Vaticano.
Considerado o pontífice mais sensível aos problemas ecológicos após a publicação, em 2015, da encíclica “Laudato Si”, o papa argentino convocou para outubro deste ano um sínodo ou assembleia de bispos sobre a Amazônia. O objetivo é proteger os povos desta região que abrange nove países e é considerada o pulmão do planeta.
“A audiência com Raoni também fez parte da preparação para a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a região Panamazônica, a ser realizada de 6 a 27 outubro, com o tema ‘Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para Ecologia'”, precisou Gisotti. O líder caiapó, que viaja acompanhado de outros três líderes indígenas do Xingu, denuncia a devastação de seu vasto território, ameaçado pelo desmatamento, pelo agronegócio e pela indústria madeireira.
Um fenômeno que Francisco denunciou quando visitou Puerto Maldonado em janeiro de 2018, uma cidade rural no sudeste do Peru, cercada pela floresta amazônica. A preocupação do papa com as ameaças contra esse santuário da biodiversidade coincide com a de muitas populações amazônicas, determinadas a defender sua identidade e seus costumes.
Francisco, voz pioneira da Igreja na proteção ambiental
É a primeira vez que a Igreja Católica apoia oficialmente atividades concretas a favor do cuidado ambiental, inclusive nas paróquias. A viagem de Raoni aconteceu em meio a tensões com o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que tem se mostrado favorável à exploração de áreas protegidas.
O cardeal brasileiro Cláudio Hummes, próximo ao papa, relator geral do Sínodo que será realizado de 6 a 27 de outubro, reconheceu recentemente em Roma que a defesa da Amazônia gera muitas “resistências e incompreensões”. “Os interesses econômicos e o paradigma tecnocrático são contrários a qualquer tentativa de mudança e estão prontos a se imporem com força, violando os direitos fundamentais das populações no território e as normas de sustentabilidade e proteção da Amazônia”, explicou Hummes.
A igreja de Francisco também está empenhada em proteger “os esquecidos” da floresta amazônica, as populações mais pobres. A Amazônia é habitada por 390 povos com uma identidade cultural e uma língua própria, e tem cerca de 120 aldeias livres em isolamento voluntário. O território, compartilhado por nove países e habitado por cerca de 34 milhões de pessoas, abriga 20% da água doce não congelada do mundo, 34% das florestas primárias e 30-50% da fauna e flora do planeta.
(Com informações da AFP)
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