Sociedade

Ciência patrocinada

Os muito ricos estão abrindo a carteira para financiar pesquisas em diversos campos. Agora é a vez da filantropia científica. Anote aí: em breve, teremos a São Paulo Cientific Week, ui

Cientista de grande influência no século XX. Uma das únicas personalidades a ter recebido dois Prêmios Nobel não compartilhados. Eu até daria uma das minhas honrarias para o Brasil resolver o seu problema de autoestima científica, mas precisava do par de láureas para aparar os livros na estante
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Leio no New York Times que está em curso uma profunda mudança na maneira como a ciência é praticada e financiada. Basicamente, o artigo chama atenção para o fato de a ciência estar cada vez mais se tornando um investimento privado. Os muito ricos estão abrindo a carteira para financiar pesquisas em diversos campos. Os geeks estavam na moda. Agora é a vez da filantropia científica. Anote aí: em breve, teremos a São Paulo Cientific Week, ui.

Esses magnatas estão fazendo investimentos nessa área para se reinventarem perante a opinião pública. Alguns adotam crianças na África, outros fazem festa para cachorros criados como gente, outros investem em pesquisas relacionadas à física de partículas. No fundo, querem a mesma coisa: aparecer como motores do progresso da humanidade. Era mais fácil antigamente, quando bastava doar uma ambulância nova para o hospital mais próximo.

Aprofundando a discussão, o mesmo artigo levanta uma questão que está preocupando a comunidade científica: muitos patronos estão optando por financiar pesquisas que tenham caráter mais midiático ou que atendam a algum interesse particular do mecenas. E com isso, estudos básicos, importantes para o desenvolvimento científico geral, ficam sem o apoio necessário. É mais ou menos como na política: o básico, básico mesmo, é difícil. Afinal, nem sempre o ônibus escolar tá funcionando perfeitamente, mas há um jatinho de um doleiro amigo disponível para uma carona de emergência.

O fato, porém, é que esse tipo de incentivo científico, de certa maneira, pode ser verificado há mais tempo. O próprio mercado de consumo impõe seus próprios critérios de prioridade. Deve haver mais dinheiro investido no desenvolvimento de tacos de golfe do que em pesquisa sobre doenças tropicais. Nem todo mundo tem a coragem e o desprendimento de ter na biografia uma obra intitulada A Vitamina C e o Cancro. Certamente, ter sido o inventor do protetor para copo quente do Starbucks dá mais status e gera menos olhares constrangidos.

No fim das contas, a verdade é que mérito intelectual e valor social não são critérios decisivos para esses doadores. Muitos são influenciados, por exemplo, por traumas familiares. Bilionários que tiveram um parente próximo acometido por uma doença rara ficam mais suscetíveis a ser generosos no combate àquela enfermidade, por mais que ela só atinja um número reduzido de pessoas. Na vida, o sujeito tem de ter sorte até na hora de contrair uma doença rara.

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