Censo indica o crescimento da diversidade indígena no Brasil

O Brasil registrou crescimento na diversidade indígena, com 391 etnias e 295 línguas identificadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístico, o IBGE. Os dados, divulgados nesta sexta-feira 24, mostram um aumento de 86 etnias e 21 línguas em comparação ao Censo anterior, de 2010. Segundo o instituto, a ampliação está relacionada a ajustes na metodologia da pesquisa.

Entre os fatores considerados pelo IBGE para esta nova versão do Censo está a migração, como a de indígenas venezuelanos; os processos de desagregação de subgrupos que passaram a se identificar como etnias distintas; e as melhorias na captação e validação dos dados.

O aumento da autoafirmação étnica, no caso de pessoas que se declaravam indígenas, mas não acionavam o pertencimento a uma etnia específica também é apontado pelos pesquisadores como causa da ampliação da diversidade indígena no Brasil. Essa omissão era uma forma de lidar com o racismo, principalmente no contexto urbano, segundo o IBGE.

Agora, o número total de indígenas identificados no Brasil é de pouco mais de um milhão e meio de pessoas, contrastando com os cerca de 900 mil da última amostra.

Entre os três povos mais populosos estão Tikuna, Kokama e Makuxi, com 74.061, 64.327 e 53.446 respectivamente – todos eles habitam na Amazônia e se espalham entre o Brasil, o Peru, a Guiana e a Colômbia. Por outro lado, 21 etnias, povos ou grupos indígenas apresentaram menos de 15 pessoas.

Já as três línguas com maior número de falantes são Tikúna, Guarani Kaiowá e Guajajara, na ordem com 51.978, 38.658 e 29.212 falantes. O aumento de falantes de língua indígena entre as pessoas indígenas de cinco anos ou mais também foi registrado, passando de quase 294 mil no Censo de 2010 para cerca de 434 mil falantes no atual levantamento.

De acordo com o IBGE, as razões para o aumento no volume de falantes de línguas indígenas no Brasil se dá por três razões: a primeira é demográfica; a segunda trata do fortalecimento cultural dos indígenas no País; e a última é a ampliação de ações de revitalização e de fomento da educação bilíngue.

O instituto também registrou, entre os indígenas, uma queda significativa na taxa de analfabetismo, de 32,13% para 21,45%.

São Paulo lidera o crescimento

O número de povos indígenas cresceu em quase todos os estados do País, à exceção do Amapá que teve uma redução de cinco para três no número de etnias declaradas. São Paulo, assim como no Censo anterior, é o estado com o maior número de etnias declaradas, com 271, seguido do Amazonas, com 259, e da Bahia, com 233 povos distintos identificados.

Nos municípios, as maiores concentrações étnicas se encontram nas capitais de São Paulo, de Manaus e do Rio de Janeiro.

Dupla etnia

Pela primeira, o Censo também captou a dupla declaração de etnia, permitindo que indígenas apontassem mais o pertencimento a mais de um grupo étnico. Ao todo, 1,43% do total de indígenas apontou esta condição. Os casos são, em maioria, jovens de até 29 anos que ainda residem em terras indígenas.

Saneamento básico

A pesquisa do IBGE, por fim, também apontou problemas persistentes de acesso ao saneamento básico. Há, por exemplo, quase 75% dos indígenas Tikuna, o maior grupo étnico do País, que vivem em domicílios sem acesso à água encanada. Isso significa dizer que cerca de 55 mil pessoas desse povo enfrenta essa situação.

A falta de água encanada também afeta mais de 35 mil guarani-kaiowás e quase 30 mil kokamas.

Os tikunas também lideram a lista daqueles indígenas não atendidos pela coleta de lixo e que vivem sem tratamento de esgoto. São quase 93% dos membros deste povo que moram em casas sem banheiro.