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Caso Vitória: o que a polícia já sabe sobre o assassinato da adolescente em Cajamar (SP)

O corpo da jovem foi encontrado na quarta-feira 5 em uma região de mata, depois de sete dias de desaparecimento

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Caso Vitória: o que a polícia já sabe sobre o assassinato da adolescente em Cajamar (SP)
Créditos: Reprodução Redes Sociais
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A Polícia segue fazendo diligências para desvendar o assassinato da adolescente Vitória Regina Sousa, que foi encontrada morta em Cajamar depois de ficar sete dias desaparecida.

O pai da adolescente Carlos Alberto Souza foi incluso na lista de suspeitos do caso, segundo informações da CNN

A investigação cita um “comportamento estranho” e diz que o pai da jovem pediu um terreno ao prefeito da cidade de Cajamar em um dos primeiros contatos entre os dois logo após a confirmação da morte de Vitória.

Na tarde do sábado 8, a Polícia prendeu o primeiro suspeito pelo caso. Maicol Antonio Sales dos Santos já era investigado como o dono do veículo prata visto na cena do crime e teve a prisão preventiva decretada pela Polícia pouco antes de ter sido apreendido em Cajamar.

A Polícia confirmou que encontrou vestígios de sangue no porta-malas do veículo do suspeito. O material foi encaminhado para exames de DNA, para confirmar se o material genético pode ser de Vitória.

Uma das versões para o caso, ainda não confirmada, aponta para o envolvimento de um homem de nome Daniel, e que, supostamente, manteria um relacionamento íntimo com o ex de Vitória, Gustavo Vinicius Moraes, que se apresentou voluntariamente à Polícia. A suspeita é a de que o homem tenha matado a adolescente e tido a ajuda de amigos para transportar o corpo da jovem até o local de desova.

Entenda o caso

Vitória Regina saiu do local em que trabalhava, um restaurante em um shopping de Cajamar, e entrou em um ônibus que a deixaria a cerca de 15 minutos de casa. No trajeto, a jovem chegou a mandar mensagens para uma amiga dizendo estar com medo de dois homens que estavam próximos a ela no ponto de ônibus.

Na sequência, ela enviou mais mensagens afirmando que um dos homens embarcou no mesmo coletivo. Ao descer, já perto de sua casa, a adolescente tranquilizou a amiga: “Ah, amiga, mas tá de boa. Eles tavam no ônibus, só que nenhum deles desceu no mesmo ponto que eu. Então tá de ‘boaça’. Não tem problema nenhum“.

Segundo o delegado, o trajeto do ponto de ônibus até a casa da adolescente duraria cerca de 15 minutos a pé e seria bastante escuro. O pai da adolescente costumava buscá-la no ponto final do ônibus, mas carro da família estava quebrado naquela noite.

Após desembarcar do ônibus, Vitória voltou a mandar mensagens para a amiga e disse temer a presença de dois homens em um carro que a teriam assediado. Também afirmou que o veículo se afastou dela e seguiu rumo a uma favela da região.

Passou os cara no carro e eles falou: ‘e aí, vida? Tá voltando?’ Ai, meu Deus do céu, vou chorar. Vou mexendo no celular. Não vou nem ligar pra eles. “Ah, deu tudo certo. Eles entraram pra dentro da favela. Uh… saiu até lágrima dos meus zóio agora. Nossa, até me arrepiei”.“A hora que eles passaram lá do outro lado e falaram, ‘aê, vida’… aí eles voltou, fio, pra quê… falei: pronto, esses menino vai voltar aqui. Mas aí eles entraram ali na favela”.Acontece essas coisas eu não consigo correr. Eu paraliso. Eu não sei o que eu faço. Eu não consigo correr. Eu fico parada.”

Esta foi a última mensagem disparada por ela.

As inconsistências do ex-namorado, segundo a polícia

O ex-namorado de Vitória, Gustavo Vinicius Moraes, de 26 anos, compareceu à delegacia voluntariamente, na quinta-feira 6, por temer represálias, segundo o delegado Aldo Galiano, que comanda o caso. A Polícia chegou a pedir a prisão temporária do homem, que foi negada pela Justiça.

Moraes passou a ser investigado pelo crime, segundo a Polícia Civil, por apresentar inconsistências em seu depoimento. Outras cinco pessoas estão na mira da corporação. Segundo os investigadores, 14 pessoas são ouvidas e sete são tratadas como investigadas.

O corpo de Vitória foi encontrado na quarta-feira 5 em uma região de mata em Cajamar, na região metropolitana da capital paulista, depois de sete dias de desaparecimento. A adolescente sumiu em 26 de fevereiro, após sair do trabalho.

O delegado do caso afirmou que Vitória chegou a mandar uma mensagem para o ex-namorado pedindo uma carona, já que estava com medo. Em depoimento, o homem disse que não conseguiu responder à solicitação da jovem e que estava com outra garota no dia do crime.

“A menina sumiu por volta da meia-noite, meia noite e meia, e ele disse que estava com outra garota no momento. Só que temos uma prova contundente de que ele estava próximo do local do crime no horário“, disse o delegado, nesta quinta-feira 6, em uma coletiva de imprensa.

Ainda de acordo com Galiano, a família da jovem também enviou mensagens a Gustavo Vinicius relatando preocupação com a demora de Vitória, mas o homem não teria se mostrado interessado, respondendo apenas com “ok”.

“Ele disse aos policiais que só viu a mensagem da Vitória por volta das 4 horas da manhã porque estaria impossibilitado de acessar o Whatsapp, mas antes disso ele abriu as mensagens dele algumas vezes. Houve uma contradição, então ele está inscrito na dinâmica do crime“, afirmou o delegado.

A polícia não descarta a tese de que Vitória tenha sido seguida pelos homens que encontrou no ponto de ônibus e que eles tenham transmitido informações sobre a adolescente aos rapazes que passaram por ela posteriormente em um carro.

Segundo o delegado, o automóvel em que estavam os dois homens foi encontrado e apreendido para perícia, assim como um veículo do ex-namorado da adolescente encontrado próximo à cena, em posse de uma terceira pessoa.

Seis pessoas são investigadas pelo crime, segundo a Polícia Civil: o ex-namorado da adolescente, o atual ficante da menina, os dois homens com quem ela cruzou no ponto de ônibus e os dois que passaram no carro.

O delegado declarou que um deles tem antecedentes criminais, mas não revelou a identidade do homem. A polícia ainda trabalha para saber se as seis pessoas mantêm relação. “Se sim, a gente pode dizer que o crime partiu dessa célula de seis pessoas.”

Crime por vingança e suspeita de atuação do PCC

O delegado também disse se tratar de um crime de vingança, dada a brutalidade aplicada contra a vítima. Vitória foi encontrada com o cabelo raspado, com um corte profundo no pescoço e com as mãos envoltas em sacolas plásticas. A adolescente também estava nua, apenas com um sutiã na região do pescoço.

O corpo estava em decomposição havia cerca de cinco dias, indicando que ela pode ter permanecido em um cativeiro antes de ser assassinada.

“Nos dois primeiros dias de seu desaparecimento, fizemos uma triangulação via antenas móveis de telefonia e apontou para uma área completamente distante da casa dela e de onde ela foi encontrada”, disse Galiano. “Fizemos uma diligência no local, mas nada foi encontrado. Com certeza, pelas antenas, ou ela ou o celular dela esteve nessa localidade.”

A polícia também investiga se membros do Primeiro Comando da Capital, o PCC, têm envolvimento no caso. “A raspagem do cabelo costuma ser um sinal das facções, de mandar um recado”, afirmou Galiano.

O delegado ainda informou que há cerca de quatro meses a polícia prendeu um membro da facção na região e que perto do local onde a adolescente foi encontrada há uma célula do crime organizado.

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