Sociedade

Carnificina em presídios deixou mais de 130 mortos neste ano

Em 15 dias, País viu assassinatos em oito estados, a maior parte provocada por guerra de facções

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A crise no sistema carcerário, que explodiu neste ano de 2017, deixou, em 15 dias, mais de 130 mortos. Em dez episódios diferentes ocorridos em oito estados (Alagoas, Amazonas, Paraíba, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Rio Grande do Norte e Roraima), muitos deles ligados à guerra de facções que ocorre nos presídios, 133 pessoas morreram.

Os casos escancaram o problema do encarceramento em massa, que faz o Brasil, segundo país que mais prendeu em 15 anos, ter a quarta maior população carcerária do mundo. Essa política vem sendo questionada pois tem como alvo majoritário as populações pobres, jovens e negras do País, e não é capaz de conter as dezenas de milhares de homicídios que ocorrem anualmente. 

O encarceramento em massa vem sendo questionado, também, por ter como um de seus ingredientes principais a guerra às drogas, uma política cujos resultados parecem insatisfatórios

Abaixo, a lista das mortes ocorridas nos presídios em 2017, até aqui:

Manaus, 1º de janeiro

No primeiro dia do ano, uma rebelião no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), na capital do Amazonas, foi encerrada com o assassinato de 56 presos, a maioria por conta de uma guerra de facções que vem sendo travada, por enquanto, dentro dos presídios. As vítimas seriam do Primeiro Comando da Capital (PCC), alvo da Família do Norte (FDN), aliada do Comando Vermelho.

Também foram mortos homens acusados de crimes sexuais e delatores. Todos as vítimas forma mutiladas ou decapitadas, em uma cena descrita como dantesca por Luís Carlos Valois, juiz da Vara de Execução Penal do Tribunal de Justiça do Amazonas que negociou o fim da rebelião.

Manaus, 2 de janeiro

No dia seguinte ao massacre no Compaj, mais quatro presos foram mortos na Unidade Prisional do Puraquequara, na zona leste de Manaus. Todos eram integrantes do PCC e também foram decapitados.

Patos (PB), 4 de janeiro

A Penitenciária Padrão Romero Nóbrega, no sertão da Paraíba, foi palco dos primeiros assassinatos fora do Amazonas. Dois homens foram assassinados durante uma rebelião, que também teria sido motivada por uma briga de facções.

Boa Vista, 6 de janeiro

Dias depois da barbárie em Manaus, a Penitenciária Agrícola Monte Cristo, na capital de Roraima, foi palco de dezenas de mortes. Em novo episódio da guerra de facções, 33 homens supostamente ligados ao PCC morreram. O massacre se deu sem que houvesse uma rebelião. Os presos responsáveis pela carnificina simplesmente quebraram os cadeados dos portões que os dividiam de seus alvos e iniciaram a matança.

Manaus, 8 de janeiro

Após o massacre no Compaj, o governo de Manaus reativou a Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa, no centro de Manaus, desativada meses antes por conta de suas condições precárias. Para lá foram levados os presos do Compaj ligados ao PCC que sobreviveram à chacina do início do ano. Em 8 de janeiro, uma rebelião nessa cadeia pública deixou mais quatro mortos. 

Maceió, 12 de janeiro

Duas mortes ocorreram na Casa de Custódia de Maceió na quinta-feira 12. Jonathan Marques Tavares, de 24 anos, foi morto por um preso que o considerava inimigo. Alexsandro Neves, 39 anos, foi morto por supostamente ter assassinado um integrante de uma facção criminosa.

Tupi Paulista (SP), 12 de janeiro

Dois homens foram assassinados na Penitenciária de Tupi Paulista, interior de São Paulo, na noite do dia 12. Inicialmente, a polícia descartou ligação com a guerra de facções e disse suspeitar que os dois viraram alvo por serem delatores.

Piraquara (PR), 14 de janeiro

Ao menos 15 criminosos fortemente armados ajudaram 34 presos a fugir do Complexo Penitenciário de Piraquara, na região metropolitana de Curitiba. Durante uma varredura após a fuga, a polícia encontrou dois presos mortos.

São Pedro de Alcântara e Blumenau (SC), 14 de janeiro

Um preso identificado como Valcir Tomaz foi morto na Penitenciária de São Pedro de Alcântara, na Região Metropolitana de Florianópolis, no sábado, em circunstâncias não esclarecidas. Segundo alguns veículos de imprensa locais, Tomaz seria integrante do Primeiro Grupo Catarinense, facção criminosa catarinense. No dia 9, morreu outro preso ligado ao PGC que estava nesta casa de detenção. Sebastião Carvalho Walter tinha sido atacado em 2016 e morreu por conta dos ferimentos.

Também no sábado, o detento Hélio Fernandes, de 29 anos, foi morto na Penitenciária Industrial de Blumenau por “desavença pessoal”, segundo a polícia.

Nísia Floresta (RN), 14 de janeiro

Uma rebelião na Penitenciária de Alcaçuz, na Região Metropolitana de Natal, deixou 26 mortos. Foi o terceiro maior massacre do ano, atrás dos ocorridos em Manaus e Boa Vista. O secretário de Justiça e Cidadania do Rio Grande do Norte, Walber Virgolino, afirmou que a situação no Norte do País pode ter influenciado a rebelião em seu estado.

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