Sociedade
Cantareira volta à faixa de restrição e acende alerta para nova crise hídrica em São Paulo
A medida, após meses de chuvas abaixo da média, busca frear a queda do volume nos reservatórios; periferias e bairros mais altos devem sofrer mais


A Agência Nacional de águas e saneamento Básico e a Agência de águas do Estado de São Paulo confirmaram, nesta quinta-feira 25, que o reservatório da Cantareira vai operar na faixa de restrição a partir de 1º de outubro. O manancial é o principal sistema de abastecimento da região metropolitana de São Paulo e operava em normalidade desde janeiro de 2022.
A decisão é motivada pelo baixo volume útil de água. O Cantareira entra em faixa de restrição quando o nível é inferior a 30% e maior que 20%.
Na quarta-feira 24, o índice era de apenas 29,42%, o que retira o abastecimento da chamada “faixa de alerta” (40% a 30%) e o coloca em um patamar mais crítico. Na prática, a Sabesp só poderá retirar da Cantareira 23 metros cúbicos de água por segundo, em vez de 27.
Desde a segunda-feira 22, a Sabesp aumentou a duração do intervalo de redução da pressão da água, de oito para dez horas entre às 19h e 5h da manhã, na tentativa de preservar o volume total do reservatório. A medida já havia sido adotada em agosto, após os meses anteriores registrarem baixos índices de chuva.
Caso a medida preventiva não seja o suficiente, as agências podem recomendar a diminuição da pressão também no período diurno para evitar uma nova crise hídrica.
Periferias e bairros mais altos devem sofrer mais
Com menos água disponível e pressão reduzida por mais tempo, regiões periféricas e bairros em áreas elevadas devem enfrentar interrupções completas no fornecimento durante a madrugada.
Questionada por CartaCapital sobre possíveis medidas para evitar o desabastecimento das áreas mais afastadas, a Sabesp se limitou a dizer que “segue o que está determinado pela outorga de operação do Sistema Cantareira” e reitera que os “imóveis que possuem caixa-d’água com tamanho adequado para seu padrão de consumo, como previsto no Decreto Estadual 12.342/78, não devem sentir os efeitos da medida”.
O fantasma de 2014
Em 2014, os paulistanos enfrentaram a pior crise hídrica do estado. No dia 1º de janeiro, o Cantareira contava com 27,2% de sua capacidade. A seca severa levou o nível a zero em maio, obrigando a Sabesp a acionar o chamado volume morto — a reserva técnica localizada abaixo do ponto de captação. Em novembro, já esgotada a primeira cota, uma segunda foi liberada.
Foi a primeira vez que o volume morto abasteceu a população. Além da insegurança quanto ao risco de desabastecimento, surgiram questionamentos sobre a qualidade da água, marcada por maior presença de sedimentos, metais pesados e compostos orgânicos.
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