Sociedade

Brumadinho: 84 mortes confirmadas e 276 desaparecidos

Presidente da Vale disse que barragens críticas serão desativadas. Porta-voz informa que empresa doará 100 mil reais a familiares de vítimas

Bombeiros recuperam o corpo de uma vítima do colapso (Foto: MAURO PIMENTEL / AFP)
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*Com informações da Deutsche Welle e AFP

Até a manhã desta quarta-feira 30, o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil de Minas Gerais confirmavam a morte de 84 pessoas após barragens do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), terem se rompido na última sexta-feira 24. A quantidade de vítimas fatais, no entanto, deve subir já que o número divulgado diz respeito apenas à quantidade de corpos já resgatados. Desses, 67 já foram identificados. As autoridades estimam que ainda há 276 desaparecidos.

O porta-voz da Vale, Sérgio Leite, afirmou na manhã desta quarta que familiares das vítimas receberão 100 mil reais. Questionado se o valor é um adiantamento de uma indenização e da responsabilização da empresa pelo rompimento de barragem, ele afirmou tratar-se de uma “doação” e “uma forma de estar solidário com a dor”.

Na terça-feira 29, o presidente da mineradora Vale, Fabio Schvartsman, anunciou que a empresa vai eliminar dez barragens semelhantes às que romperam em Brumadinho e em Mariana (em 2015). Todas elas estão localizadas nos arredores de Belo Horizonte.

“É a resposta cabal e à altura da enorme tragédia que tivemos em Brumadinho. Este plano foi produzido três a quatro dias após o acidente”, disse o executivo.

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O presidente da Vale disse que o projeto para descomissionar as barragens – preparar a barragem para que ela seja integrada à natureza – está pronto e será levado para os órgãos federais e estaduais em 45 dias. Segundo ele, o prazo para executar as ações é de um a 3 anos.

Impactos

De acordo com a ONG WWF-Brasil, os impactos da enxurrada de lama serão sentidas por anos no âmbito ambiental.  “Aproximadamente 125 hectares de florestas foram perdidos, o equivalente a mais de um milhão de metros quadrados, ou 125 campos de futebol”, indica o relatório divulgado.

A Agência Nacional de Águas (ANA) estima que a onda de rejeitos e lama chegará entre 5 e 10 de fevereiro à hidrelétrica de Retiro Baixo, a 300 km da mina do Córrego do Feijão.

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O órgão ainda avalia se o rejeito alcançará a  hidrelétrica de Três Marias, no rio São Francisco, 30 km abaixo da barragem de Retiro Baixo. O Serviço Geológico do Brasil, no entanto, estima desde segunda-feira que os resíduos alcançarão Três Marias entre 15 e 20 de fevereiro.

O São Francisco é um rio de vital importância econômica e social para cinco estados.

Histórico ambiental

A Mina Córrego do Feijão foi alvo de pelo menos cinco multas ambientais desde 1988, de acordo com os registros do Siam (Sistema Integrado de Informação Ambiental de Minas Gerais). Desses autos de infração, apenas dois estão disponíveis no portal do órgão.

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Os dois documentos não têm relação com possíveis problemas estruturais na Barragem 1 da mina Córrego do Feijão, mas indicam que havia falhas no funcionamento da mina.

Num dos casos, técnicos apontaram que a mina provocou degradação ambiental entre 2007 e 2009 na região, com o despejo de efluentes em recursos hídricos e prejudicando a qualidade do ar.

No outro, de 2003, a mina foi multada em 74 mil reais pelo deslizamento de um talude de uma estrada de ligação da Mina Córrego do Feijão até a empresa Mineral do Brasil, o que provocou “supressão de vegetação”. A Vale S/A respondeu que o deslizamento teria sido provocado por chuvas no começo do ano, mas isso não reverteu a multa.

Rompimento

A barragem de rejeitos da mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, rompeu na sexta-feira, liberando quase 12 milhões de metros cúbicos de lama e rejeitos minerais e deixando um rastro de destruição em instalações da Vale e numa comunidade de Brumadinho. A lama e os rejeitos também atingiram o rio Paraopeba.

Segundo a Vale, o lugar havia sido inspecionado pela certificadora alemã TÜV-Süd em junho e setembro de 2018, ocasião em que foi atestada como estável. Ontem, dois engenheiros da firma alemã que atestaram a estabilidade e três funcionários da Vale, responsáveis pela mina e seu licenciamento, foram presos.

Oficialmente, a barragem que rompeu não recebia novos rejeitos havia três anos e estava em processo de desativação. A estrutura foi construída em 1976 pela antiga mineradora Ferteco Mineração, que já foi a terceira maior companhia produtora de minério de ferro do Brasil e pertenceu ao grupo alemão ThyssenKrupp. A barragem e a mina passaram para a Vale em 2001, quando a Ferteco foi vendida.

Cerca de mil policiais militares estão acampados na zona rural de Brumadinho, fazendo o patrulhamento da área para evitar saques. Segundo o major Flávio Santiago, serão dois dias de grande operação, mas o comando da Polícia Militar definirá se haverá necessidade de estender a ação por mais tempo.

A tragédia em Brumadinho ocorre cerca de três anos após o rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), responsável pela morte de 19 pessoas e por uma das maiores tragédias ambientais do mundo, com o despejo de mais de 60 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério, o que afetou rios e florestas em Minas Gerais e no Espírito Santo.

A mineradora responsável pela barragem, Samarco, também pertencia à Vale S/A, em sociedade com o grupo anglo-australiano BHP Billiton.

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