Sociedade
Brasileiras estudam e trabalham mais, mas ganham 21% a menos que os homens
É o que mostra o estudo Estatísticas de Gênero, divulgado pelo IBGE. Em média, enquanto um homem recebe 2.920 reais mensais, a mulher ganha 2.303 reais


As mulheres brasileiras trabalham, em média, 2,3 horas a mais que os homens, e apesar de estarem mais escolarizadas, ganham, em média, 21% a menos que eles.
É o que mostra o estudo Estatísticas de Gênero, divulgado nesta sexta-feira 8, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em média, enquanto um homem recebe 2.920 reais mensais, a mulher ganha 2.303 reais. Entre as mulheres com ensino superior, o fosso cresce ainda mais.
Quanto mais bem qualificada, maior a discrepância salarial. Nas profissões das ciências e intelectuais, por exemplo, o salário da mulher é 37% menor. Já em áreas de baixa qualificação, a diferença salarial é para 11,9%.
Além disso, também são maiores os obstáculos para as brasileiras conseguirem ocupar cargos de liderança, e quando os ocupam, a remuneração é menor.
Em 2022, mesmo com menor qualificação, os homens estavam em 61% dos cargos de gerência, enquanto as mulheres ocupavam apenas 39,3%.
Elas, por sua vez, se dedicaram mais para aprimorar os conhecimentos em seus setores. De acordo com o estudo, 21,3% das mulheres com 25 anos ou mais têm ensino superior. Entre os homens, o índice é de 16,8%.
No entanto, as mulheres esbarram na responsabilidade de lidar com a maior quantidade de afazeres domésticos e cuidados de pessoas, em conjunto ao tempo para o trabalho remunerado.
Barreiras e consequências
Em média foram 9,6 horas semanais a mais com essas atividades em 2022, o que significa dizer que as brasileiras dedicam quase o dobro do tempo a cuidados de pessoas ou afazeres domésticos.
Ao considerar o recorte racial, a carga de trabalho doméstico e de cuidado é ainda maior para mulheres pretas e pardas.
Enquanto mulheres brancas gastam 20,4 horas semanais com o trabalho de cuidado, para mulheres negras esse tempo chega a 22 horas. A responsabilidade por essas tarefas acaba afetando a inserção das mulheres no mercado de trabalho e até mesmo a formação em algumas áreas.
Em 2022, a taxa de participação feminina na força de trabalho era de 53,3%, enquanto a masculina era de 73,2%, uma diferença de 19,9 pontos percentuais.
Em cursos nas áreas de Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemática, a participação das mulheres é apenas de 22%. O número de estudantes caiu 1,2% nos últimos dez anos.
Já na área de bem-estar social, como Serviço Social e Enfermagem, a participação feminina sobe para 92%.
A coordenadora de estudo e pesquisa do IBGE, Barbara Cobo, aponta que estereótipos de gênero podem explicar essa diferença. “São escolhas condicionadas: o fato de serem criadas para cuidar faz com que, mesmo ao entrar no mercado de trabalho, elas acabem selecionando cursos que continuem fazendo cuidado, como se isso fosse uma atribuição feminina”, afirma.
Nesse cenário, o estudo também considerou qual é a presença feminina na política. Em 2023, as mulheres eram 17,9% da Câmara Federal. Dos 38 cargos ministeriais, apenas nove eram ocupados por mulheres.
O Brasil ocupa a 133ª posição entre 186 países sobre a proporção de parlamentares mulheres e na América Latina, o país é o último colocado.
Ao ponderar a realidade de mulheres mães, o estudo mostra que a restrição é mais severa.
A diferença no nível de ocupação entre mulheres sem filhos e aquelas com crianças de até 6 anos era de 9,6 pontos percentuais. Para mulheres pretas e pardas com filhos pequenos, a diferença aumentou para 10,7 pontos percentuais.
Já os homens com filhos têm maior nível de ocupação. O nível de ocupação entre aqueles com filhos de até 6 anos foi maior do que entre aqueles que não tinham filhos.
Por região, a maior desigualdade na sobrecarga de trabalho foi registrada na região Nordeste, onde as mulheres têm 4,2 horas semanais a mais de trabalho.
Em números absolutos, as mulheres que enfrentam a maior carga de trabalho são as do Sudeste com 55,3 horas semanais.
Violência contra a mulher
O estudo também mostrou que mulheres mais jovens são as que mais relataram ter sofrido violência oriunda de parceiro ou ex-parceiro íntimo.
A taxa entre a faixa etária de 18 a 29 anos é de 9,2% e de 8,2% entre as mulheres com 30 a 39 anos.
Pelo menos 6% das mulheres com 18 anos ou mais no Brasil já sofreram algum tipo de violência praticada por um parceiro íntimo atual ou anterior.
Na análise por regiões, o Nordeste aparece como o líder de casos de violência contra a mulher, onde 6,3% das mulheres com mais de 18 anos disseram ter sofrido algum tipo de violência.
No Sudeste e no Centro-Oeste, o percentual é de 6%; no Norte, 5,9%; e no Sul, 5,6%.
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