Sociedade

Brasil lidera ranking de mortes de ambientalistas, com 57 assassinatos

Relatório aponta que 2017 foi o ano mais violento para defensores do meio ambiente em todo o mundo, com 207 vítimas

A pesquisa revela ainda que 90% da população gostaria de substituí-lo em eleições diretas. Os resultados animam a oposição ao governo

A popularidade de Michel Temer não para de despencar. Apenas 5% da população considera o desempenho do presidente ótimo ou bom, ante  14% em outubro do ano passado, revelou uma pesquisa do instituto Vox Populi, encomendada pela Central Única dos Trabalhadores e divulgada em primeira mão por CartaCapital na semana passada.

Na edição que chega às bancas de todo o País nesta sexta-feira 21, a revista apresenta com exclusividade outra dimensão da sondagem: para 78% dos entrevistados, o Tribunal Superior Eleitoral deveria cassar o mandato de Temer pelas supostas irregularidades cometidas pela chapa Dilma-Temer em 2014. Não é tudo: nove em cada dez brasileiros desejam que o novo presidente seja escolhido por eleições diretas, e não pelo Parlamento, como previsto pela Constituição.

Os pesquisadores consultaram 2 mil eleitores com mais de 16 anos, residentes em 118 municípios, de todos os estados e do Distrito Federal, em áreas urbanas e rurais, entre 6 e 10 de abril.  A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, para mais ou para menos.

Motivos para apoiar a destituição de Temer não faltam. O peemedebista tem promovido um desmonte dos resquícios do Estado de Bem-Estar Social no Brasil, com o congelamento dos gastos públicos por duas décadas e a dilapidação dos direitos dos trabalhadores, um projeto político que jamais passaria pelo crivo do voto popular.

[caption id='attachment_5365' align='alignnone' width='300'] Gráfico - Pesquisa CUT/Vox Populi [/caption]

A rejeição às reformas de Temer beira a unanimidade. O aumento da idade da aposentadoria para 65 anos e do tempo de contribuição (mínimo de 25 anos), base da reforma da Previdência, é rejeitado por 93%, revela a pesquisa CUT/Vox Populi. E e 80% reprova a Lei de Terceirização.

Além disso, o peemedebista figura como anfitrião, em seu escritório político em São Paulo e no Palácio do Jaburu, de negociatas que somam mais de 80 milhões de reais, segundo as delações de executivos da Odebrecht. Blindado pelo cargo, que o protege de responder por atos cometidos antes de sua posse, Temer possui nada menos que oito ministros investigados pela Operação Lava Jato.

O desejo de antecipar as eleições presidenciais esbarra, porém, na má vontade do Legislativo para entregar ao povo o seu destino. Boa parte dos parlamentares, na verdade, parece mais preocupada em salvar a própria pele, e não se descarta a possibilidade de uma autoanistia para crimes eleitorais, como a prática do caixa 2. Apenas a nova lista de inquéritos autorizados pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, atinge 24 senadores e 39 deputados federais.

Animador do impeachment de Dilma Rousseff, o senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB, é recordista de investigações abertas, ao lado de Romero Jucá, do PMDB, cada um deles alvo de cinco apurações. Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB), também figuram nas planilhas de repasses ilegais da Odebrecht, com os apelidos de “Botafogo” e “Índio”, respectivamente.

“Diretas Já” e greve geral
“A crise política só começará a ser debelada com novas eleições, e somente uma intensa mobilização popular, com os movimentos sociais e a população nas ruas, será capaz de antecipá-las”, afirma Vagner Freitas, presidente da CUT, para quem não adianta esperar do Legislativo qualquer solução. “Boa parte dos deputados e senadores que estão aí sabe que não será capaz de se reeleger em 2018, até pelos impactos da Lava Jato. Parecem negociar o fim de suas carreiras políticas.”

As centrais sindicais planejam, para o próximo dia 28, uma greve geral contra as reformas trabalhista e previdenciária. Desde o início do ano, o movimento sindical tem enfrentado dificuldade para garantir a adesão de trabalhadores de setores estratégicos da economia em um cenário de elevado desemprego. Agora Freitas se mostra confiante em uma megamobilização, impulsionada pelo próprio governo.

[caption id='attachment_5366' align='alignnone' width='300'] Protesto contra as reformas de Temer A rejeição às reformas de Temer beira a unanimidade (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)[/caption]“Cada vez que Temer se manifesta pelas reformas que retiram direitos dos trabalhadores, ele aumenta as nossas chances de sucesso. A sociedade civil é absolutamente contrária a essas propostas”, observa o presidente da CUT, lembrando as contundentes manifestações de oposição às reformas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil CNBB) e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

 

“Se insistir nessa agenda, Temer só aumentará a sua impopularidade. Os parlamentares que quiserem morrer abraçados com ele votarão com o governo”, diz Freitas. Embora não abracem a bandeira pelas “Diretas Já”, encampada pelos movimentos e centrais que integram as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, a Força Sindical e a UGT, cujas lideranças chegaram a apoiar a “solução Temer”, decidiram participar da greve geral.

Corrupção sistêmica e capilarizada
“As delações da Odebrecht demonstram que a corrupção no Brasil é sistêmica e capilarizada, e não um produto ou privilégio de um único partido ou governo, como alguns tentavam desenhar até poucos meses atrás”, observa o cientista político Claudio Couto, professor da Fundação Getulio Vargas.

Ex-presidente do braço de infraestrutura da empreiteira, Benedicto Júnior, o “BJ”, entregou à força-tarefa da Lava Jato uma planilha com os nomes de 182 políticos que teriam recebido doações ilegais de campanha, via caixa 2, entre 2008 e 2014, em troca de contrapartidas esperadas pela construtora. A lista atinge praticamente todos os partidos, sobretudo os maiores, nas três esferas de poder: União, estados e municípios.

Por essa razão, Couto não estranha o desejo popular de antecipar as eleições, embora considere o prazo exíguo demais para levar o projeto a cabo. “O problema é que as eleições de 2018 não estão muito distantes. A pré-campanha deve começar daqui a um ano. Não temos um sistema parlamentarista, habituado a dissolver o Congresso e organizar novas eleições, como propôs Theresa May no Reino Unido”, observa o professor. “Até pelo grau de desorganização que um escândalo dessa magnitude provoca, talvez seja até melhor dar um tempo para a classe política se reposicionar nesse cenário.”

[caption id='attachment_5367' align='alignnone' width='300'] Vagner Freitas Ao lado de Lula, o presidente da CUT, Vagner Freitas, convoca trabalhadores para a greve geral (Adonis Guerra)[/caption]

Movimentos têm pressa
Os movimentos sociais relutam, porém, em aceitar passivamente a manutenção de um governo que consideram ilegítimo. “Ninguém sabe como será esse processo eleitoral de 2018, se ele de fato existirá e sob quais circunstâncias. Além disso, em menos de um ano, essa turma conseguiu promover um gigantesco retrocesso do ponto de vista dos direitos sociais. Se tiver mais um ano e meio pela frente, é capaz de Temer conseguir revogar a Lei Áurea”, diz Guilherme Boulos, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto.

“Na verdade, muito além de antecipar eleições, inclusive para renovar o Parlamento, precisamos colocar em pauta uma mudança profunda do sistema político, radicalizar a democracia”, emenda Boulos. “É preciso garantir o financiamento público e exclusivo de campanhas eleitorais para acabar com essa captura do Estado pelo interesse privado, ampliar os mecanismos de participação popular, fortalecer os plebiscitos, trazer o povo para decidir sobre as questões fundamentais do País diretamente.”

Ainda que os movimentos sociais consigam mobilizar parcela significativa da sociedade por novas eleições, não há garantia de sucesso para o movimento das Diretas Já, observa Marcos Coimbra, diretor do Vox Populi. “Em um cenário realista, não vejo essa vontade da opinião pública ser traduzida pelo sistema político. A sociedade brasileira deseja a saída de Temer, mas a elite ainda acredita que ele será capaz de tocar essa agenda impopular que atende tão bem aos seus interesses”, diz Coimbra. “O que mais o ameaça neste momento são as dificuldades enfrentadas no Parlamento. A única condição que o mantém no poder é aprovar as reformas prometidas ao mercado. Sem isso, Temer é descartável.” 

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Pelo segundo ano consecutivo o Brasil ficou no primeiro lugar do ranking da ONG britânica Global Witness, que mede a violência contra defensores do meio ambiente, com 57 mortes. Em 2017, o ano mais violento para ambientalistas em todo o mundo, foram registradas 207 assassinatos de ativistas, 60% deles na América Latina.

Em segundo lugar no ranking divulgado no relatório, liderado pelo Brasil, está as Filipinas, com 48 mortes – um recorde na Ásia. Em terceiro lugar está a Colômbia, com 24 mortes. Na África, 19 ativistas foram assassinados, 12 da República Democrática do Congo.

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Segundo o relatório, ativistas foram executados por se oporem a projetos florestais, agroindustriais ou propostos por empresas de mineração. O balanço, diz a Global Witness, ainda está aquém da realidade, já que muitas dessas mortes não são declaradas. Entre as vítimas estão líderes locais, encarregados de proteger a flora e a fauna selvagens, mas também “pessoas comuns” que defendem suas terras.

No Brasil, o relatório cita o ataque à comunidade maranhense dos índios Gamela, em 2017, que deixou 22 feridos, incluindo crianças. Machetes e rifles foram usados para expulsá-los de suas terras. Alguns dos moradores tiveram suas mãos decepadas e outros sofreram tentativas de esquartejamento. Meses depois, ressalta a ONG, nenhum dos responsáveis foi julgado, “o que reflete a ampla cultura de impunidade e a falta de ação para defender os ativistas e comunidades”.

Segundo o relatório, “em vez de agir para acabar os ataques, o governo do presidente Michel Temer e o Legislativo estão enfraquecendo leis e instituições que protegem terras e os direitos dos povos indígenas. Ao mesmo tempo, eles facilitam a ações do grande empresariado, que não parece se incomodar com a devastação humana e ambiental perpetrada pelas suas atividades – que aceleram a exploração de ecossistemas frágeis”.

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