Sociedade

Bela adormecida no Rio

Transmissão simultânea do Ballet Bolshoi para diversas cidades descambou para a realidade dos flanelinhas

Apoie Siga-nos no

Num começo de ano chuvoso como este, marquei um vinho para rever meu amigo – de todas as horas – Mauro Bandeira de Mello.

Diante de uma garrafa de um delicioso vinho, um Marque de Riscal, da região de Rioja, Espanha, entre um gole e outro, conversamos sobre diversos assuntos.

Numa certa altura, falando de cinema, Mauro contou que agora no final do ano, foi com a família assistir a uma transmissão simultânea do Ballet Bolshoi para diversas cidades do mundo, no Cinema Roxy. “Uma bela versão da Bela Adormecida: às 13 horas no Rio, às 19 em Moscou. A maravilhosa música de Tchaikowsky valorizada pela célebre coreografia de Marius Petipa revisitada por Yuri Grigorovich”, lembrou Mauro.

E continuou sua narração cheia de pormenores: “A apresentação aconteceu no recém-reformado palco do Teatro Bolshoi e foi transmitida, em tempo real, para diversas salas de cinema, o que permitiu que milhares de pessoas – não apenas os moscovitas sentados diante do palco – pudessem se deliciar com a performance de Svetlana Zakharova, interpretando a Princesa Aurora, além de tantos outros bailarinos de primeiríssima linha, a interpretar o Príncipe Désiré, a Fada Lilás, o Pássaro Azul, a Princesa Florinda e a terrível Bruxa Carabosse.

“As três horas de espetáculo voaram e saímos todos nas nuvens, encantados com a dança e maravilhados com a tecnologia posta a serviço da alma, do melhor do ser humano”, descreveu Mauro, ainda fascinado pela lembrança do maravilhoso espetáculo que assistiu com sua família.

Mas do palco e do conto de Charles Perrault, como Mauro mesmo relata, descambou para a realidade do mundo quando aterrissaram de volta ao mundo do Rio de Janeiro. Claro que isso aconteceu quando atravessaram a Av. Copacabana e logo foram abordados por flanelinhas – o que acontece de forma nem sempre agradável.

“Triste quadro”, lamenta ele, “que suscita o forte desejo de voltar rapidamente para o mundo dos sonhos”.

Seguindo pela avenida em direção à praia, vendo uma enorme quantidade de desocupados maltrapilhos na frente do Banco do Brasil, no prédio que já abrigou uma filial da Confeitaria Colombo, a conversa descambou para o terreno quase sempre sombrio da política, diante da indagação de sua mulher: “Poxa, isso não terá jeito nunca? Essas pessoas continuarão indefinidamente presas à miséria?”

Mas, o que fazer?

Com ar desconsolado, ele raciocinou: “A realidade não tarda a nos resgatar. Os séculos que separam a primeira apresentação deste mesmo ballet dos dias atuais não foram suficientes para diminuir tantas desigualdades. A tecnologia permitiu inúmeros avanços, sobretudo, de mais acesso a pessoas que, antes, não podiam sonhar tantos sonhos. E daí a relevância da política que, dependendo do rumo e das regras que impõe à economia e à sociedade, incorporará mais ou menos pessoas para o lado bom da vida. Mas uma infinidade de teorias e escritos foram produzidos sobre isso – sabemos todos…”

A volta para casa continuou.

A visão da praia de Copacabana, segundo ele “a nossa mais bela princesa, elevou novamente o astral do grupo”.

A vista da praia é realmente fascinante, um belo cenário com pessoas caminhando, conversando, rindo…

Mas é também uma sucessão de pontos e contrapontos: “motoristas se xingando, churrasquinho animado na esquina, mais flanelinhas, pessoas dançando na rua, outras revirando o lixo e crianças andando de bicicleta no calçadão. O céu estava nublado, mas com um pontinho de céu azul ao fundo”.

Diante da lembrança desse domingo, ele concluiu: “Viva o Rio, que continua lindo. E viva a ponte virtual com Moscou e com o mundo dos contos de fadas”.

No último gole de vinho, comentei sobre as cerca de dois milhões de pessoas que vi na mesma praia. Ordeira, alegre, comemorando a entrada do ano sem qualquer tipo de excesso, apesar de a bebida correr solta. E conclui, na Linha de pensamento do Mauro: nós merecemos governantes que também amem nossa terra e nossa gente. Que tenham a vontade política de acabar com o enorme desnível social em que vivemos neste país rico cheio de filhos miseráveis. É ano de eleições. Nós podemos – e devemos – reverter isso, começando, já, a escolher em quem votar e começar a mudar o que acontece na Prefeitura e na Câmara Municipal. É o primeiro importante passo para diminuir o espaço da ponte que une a fantasia do Bolshoi com a realidade de nossas ruas.

A propósito desse pensamento: o Diário Oficial da Prefeitura publicou no sábado, dia 31 de dezembro, sem qualquer alarde ou holofote, a autorização para o aumento das passagens de ônibus a partir deste primeiro dia útil do ano.

As empresas de ônibus agradecem a boa notícia de Ano Novo.

Num começo de ano chuvoso como este, marquei um vinho para rever meu amigo – de todas as horas – Mauro Bandeira de Mello.

Diante de uma garrafa de um delicioso vinho, um Marque de Riscal, da região de Rioja, Espanha, entre um gole e outro, conversamos sobre diversos assuntos.

Numa certa altura, falando de cinema, Mauro contou que agora no final do ano, foi com a família assistir a uma transmissão simultânea do Ballet Bolshoi para diversas cidades do mundo, no Cinema Roxy. “Uma bela versão da Bela Adormecida: às 13 horas no Rio, às 19 em Moscou. A maravilhosa música de Tchaikowsky valorizada pela célebre coreografia de Marius Petipa revisitada por Yuri Grigorovich”, lembrou Mauro.

E continuou sua narração cheia de pormenores: “A apresentação aconteceu no recém-reformado palco do Teatro Bolshoi e foi transmitida, em tempo real, para diversas salas de cinema, o que permitiu que milhares de pessoas – não apenas os moscovitas sentados diante do palco – pudessem se deliciar com a performance de Svetlana Zakharova, interpretando a Princesa Aurora, além de tantos outros bailarinos de primeiríssima linha, a interpretar o Príncipe Désiré, a Fada Lilás, o Pássaro Azul, a Princesa Florinda e a terrível Bruxa Carabosse.

“As três horas de espetáculo voaram e saímos todos nas nuvens, encantados com a dança e maravilhados com a tecnologia posta a serviço da alma, do melhor do ser humano”, descreveu Mauro, ainda fascinado pela lembrança do maravilhoso espetáculo que assistiu com sua família.

Mas do palco e do conto de Charles Perrault, como Mauro mesmo relata, descambou para a realidade do mundo quando aterrissaram de volta ao mundo do Rio de Janeiro. Claro que isso aconteceu quando atravessaram a Av. Copacabana e logo foram abordados por flanelinhas – o que acontece de forma nem sempre agradável.

“Triste quadro”, lamenta ele, “que suscita o forte desejo de voltar rapidamente para o mundo dos sonhos”.

Seguindo pela avenida em direção à praia, vendo uma enorme quantidade de desocupados maltrapilhos na frente do Banco do Brasil, no prédio que já abrigou uma filial da Confeitaria Colombo, a conversa descambou para o terreno quase sempre sombrio da política, diante da indagação de sua mulher: “Poxa, isso não terá jeito nunca? Essas pessoas continuarão indefinidamente presas à miséria?”

Mas, o que fazer?

Com ar desconsolado, ele raciocinou: “A realidade não tarda a nos resgatar. Os séculos que separam a primeira apresentação deste mesmo ballet dos dias atuais não foram suficientes para diminuir tantas desigualdades. A tecnologia permitiu inúmeros avanços, sobretudo, de mais acesso a pessoas que, antes, não podiam sonhar tantos sonhos. E daí a relevância da política que, dependendo do rumo e das regras que impõe à economia e à sociedade, incorporará mais ou menos pessoas para o lado bom da vida. Mas uma infinidade de teorias e escritos foram produzidos sobre isso – sabemos todos…”

A volta para casa continuou.

A visão da praia de Copacabana, segundo ele “a nossa mais bela princesa, elevou novamente o astral do grupo”.

A vista da praia é realmente fascinante, um belo cenário com pessoas caminhando, conversando, rindo…

Mas é também uma sucessão de pontos e contrapontos: “motoristas se xingando, churrasquinho animado na esquina, mais flanelinhas, pessoas dançando na rua, outras revirando o lixo e crianças andando de bicicleta no calçadão. O céu estava nublado, mas com um pontinho de céu azul ao fundo”.

Diante da lembrança desse domingo, ele concluiu: “Viva o Rio, que continua lindo. E viva a ponte virtual com Moscou e com o mundo dos contos de fadas”.

No último gole de vinho, comentei sobre as cerca de dois milhões de pessoas que vi na mesma praia. Ordeira, alegre, comemorando a entrada do ano sem qualquer tipo de excesso, apesar de a bebida correr solta. E conclui, na Linha de pensamento do Mauro: nós merecemos governantes que também amem nossa terra e nossa gente. Que tenham a vontade política de acabar com o enorme desnível social em que vivemos neste país rico cheio de filhos miseráveis. É ano de eleições. Nós podemos – e devemos – reverter isso, começando, já, a escolher em quem votar e começar a mudar o que acontece na Prefeitura e na Câmara Municipal. É o primeiro importante passo para diminuir o espaço da ponte que une a fantasia do Bolshoi com a realidade de nossas ruas.

A propósito desse pensamento: o Diário Oficial da Prefeitura publicou no sábado, dia 31 de dezembro, sem qualquer alarde ou holofote, a autorização para o aumento das passagens de ônibus a partir deste primeiro dia útil do ano.

As empresas de ônibus agradecem a boa notícia de Ano Novo.

ENTENDA MAIS SOBRE: ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.