Sociedade

Bairro mais caro de São Paulo se mobiliza contra habitação popular

Contra ‘destruição’ e ‘desvalorização’ do local, moradores da Vila Nova Conceição manifestam preocupação com moradia popular e especulação imobiliária

Destaque para área que será marcada como Zeis no bairro
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Moradores da Vila Nova Conceição, o bairro com o metro quadrado mais caro de São Paulo, estão se mobilizando para tentar impedir a construção de moradias para famílias de baixa renda na região. A associação dos moradores do bairro busca evitar que um terreno na Vila Nova Conceição seja demarcado como uma Zona Especial de Interesse Social (Zeis), prevista no projeto do Plano Diretor Estratégico de São Paulo.

A área de 2.540 metros quadrados era um estacionamento. Devido à proibição da atividade na região, está lacrada há cerca de três anos. O terreno privado ocupa um quarto de um quarteirão tomado por grandes casas, nas esquinas das ruas Professor Filadelfo Azevedo e Domingos Leme. Bem localizado, fica a poucas quadras do parque Ibirapuera e do corredor de ônibus da avenida Santo Amaro.

O estabelecimento da área como como Zeis 5 destinaria o terreno ao “mercado popular” da habitação. O Zeis 5 é um tipo de zoneamento feito em áreas bem dotadas de serviços e boa oferta de empregos, direcionado a famílias com renda entre 6 e 10 salários mínimos. É um público que não compõe a parte mais necessitada da população (a com renda entre zero e três salários mínimos), mas, mesmo assim, contrastaria com os atuais moradores da região, que pagam em média 13,5 mil reais por metro quadrado, segundo o Índice FipeZap.

A reportagem de CartaCapital acompanhou uma reunião da associação de moradores da Vila Nova Conceição na noite de segunda-feira 2. Alguns dos presentes no encontro argumentavam que o bairro não comportaria a construção de prédios no terreno. “A desvalorização é imediata, o desconforto também. Nós teremos um impacto viário tremendo, porque hoje nós não conhecemos nenhuma pessoa nessa cidade que não tenha um automóvel. Como iremos comportar tantas pessoas no bairro?”, disse no encontro o advogado Fábio Mortari, presidente da associação. “Desse jeito, destruiriam uma região que já foi profundamente degradada devido ao corredor de ônibus da avenida Santo Amaro.”

Na reunião, todos os vinte moradores presentes foram contrários à demarcação da área. Os residentes alegavam não se tratar de uma questão social e negavam o rótulo de ‘elitista’. Para o advogado Alex Canuto, ex-presidente da associação, a demarcação da área como Zeis atende ao interesse da especulação imobiliária, e não dos sem teto. Durante a reunião, uma moradora o questionou qual seria a relação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, o MTST, com aquele terreno. “A questão do MTST, olha… a gente tem que explicar o seguinte: isso aí é testa de ferro. ‘A, coitadinho, dos pobres’. Não são. Isso é especulação imobiliária” diz Paulo, fazendo referência ao movimento social que tem pressionado pela aprovação do plano diretor na Câmara dos Vereadores. “Falam que é uma Zeis, que tem um interesse social. Daqui a dois anos percebem que não deu certo, mas aí a área já está liberada e aprova-se um projeto de altíssimo padrão. Depois, o terreno ao lado vai pedir o mesmo, e aí acabou o bairro.”

Os moradores reconhecem que é tarde para mudar o projeto. A lei deve ser votada, no plenário da Câmara dos Vereadores, ainda nesta semana. A última ajuda para mudá-lo antes disso deve vir do vice-presidente da associação, o vereador Floriano Pesaro (PSDB). Depois, eles cogitam entrar com uma ação judicial. Os moradores alegam que o próprio plano diretor não permite que este tipo de área seja separada dentro de uma Zona Exclusivamente Residencial (ZER), como é o caso do bairro.

Enquanto isso, em busca de alternativa, um dos moradores conclamou-os a se unirem com outros bairros nobres da cidade que passam por uma situação parecida. “Não é só o nosso bairro que deve estar passando por isso. Campo Belo, Brooklin, Moema, Jardins, nós não estamos sozinhos nesta jornada”.

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